Metodologia proposta por egressa da UnB reduz custos do procedimento por aproveitar maquinário já utilizado por produtores rurais

Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

dissertação de Keiko Pellizzaro, defendida no Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade de Brasília, em junho de 2016, propõe novas técnicas de semeadura direta para reintroduzir árvores, arbustos e ervas nativas no Cerrado. O trabalho, que contou com o envolvimento de comunidades rurais, pretende restaurar processos ecológicos e biodiversidade dentro da área rural.

 

O trabalho de Keiko sintetizou os resultados de três anos de avaliação de sete semeaduras experimentais oriundas de três áreas no Distrito Federal e uma em Goiás. Para tanto, ela fez intervenções que reduzissem ou eliminassem a dominância de gramíneas exóticas, além de reintroduzir espécies nativas por meio da semeadura direta.

 

O tipo de restauração proposto por Keiko faz com que haja possibilidade de plantas de vários tipos e de diversas formas de vida se desenvolverem. Sem a vegetação rasteira, as gramíneas exóticas se alastram e tomam o espaço, impedindo que árvores cresçam, por exemplo.

 

“Se fizéssemos uma restauração somente com árvores, correríamos o risco de tê-las abafadas pelo alastramento de gramíneas exóticas. As árvores não conseguem competir com elas, uma vez que as árvores crescem cerca de 2,5 centímetros por ano e as gramíneas exóticas crescem 2 metros no mesmo período”, conta a egressa do mestrado em Ecologia.

Muda com três anos de idade
Árvore do Cerrado com três anos de idade. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

A presença de gramíneas exóticas interfere na frequência e na intensidade dos incêndios que atingem áreas de cerrado. “Elas  produzem mais folhas, que se tornam combustível. Por isso, o fogo se alastra mais rápido e de forma mais intensa, atingindo áreas maiores e matando mais plantas e animais”, completa a professora Isabel Schmidt, orientadora do projeto.

 

O entrelaçamento das folhas das gramíneas não nativas também atrapalham o crescimento das árvores de cerrado. Qualquer distúrbio extra, como, por exemplo, a secura mais intensa em um ano ou uma queimada mais grave, faz com que elas aumentem sua área de ocorrência.

 

“A ideia é retirar essas gramíneas exóticas e plantar de volta a vegetação nativa”, explica a professora. “Essa técnica faz com que possamos recuperar não apenas as árvores, mas também as ervas e as gramíneas, onde estão aproximadamente 60% da biodiversidade vegetal do cerrado”, detalha.

 

TRABALHO COLABORATIVO – As comunidades ao redor das áreas restauradas pelos experimentos de Keiko foram envolvidas no processo. As sementes utilizadas na técnica de semeadura direta foram coletadas por residentes das regiões. “Uma das nossas preocupações foi envolver as pessoas da região, para promover emprego e renda, além da restauração de áreas em que essas populações moram, a partir de uma técnica que pudemos comprovar que funciona melhor”, diz Isabel.

 

As primeiras sementes, no entanto, foram coletadas pela equipe de Keiko. É um trabalho manual que compreende coleta, preparo, armazenamento e transporte. Na Chapada dos Veadeiros, elas também foram compradas de coletores locais. “Isso é uma forma de valorização do ambiente e do trabalho local”, explica a egressa da UnB.

 

Um dos aspectos positivos de envolver as comunidades foi a valorização das árvores que já existem no cerrado. “Acompanhando de perto as plantas que semeamos, as pessoas perceberam o quão lentamente crescem as árvores e entenderam como é muito difícil restaurar essa biodiversidade. Melhor conservar, preservar”, argumenta Keiko.

 

Egressa do mestrado Keiko Pellizzaro e professora Isabel Schmidt
Egressa do mestrado Keiko Pellizzaro e a professora Isabel Schmidt. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

CUSTOS – Ao trabalhar com o maquinário agrícola, as pesquisadoras estimam que a metodologia de semeadura direta corresponda a um terço do custo do plantio de mudas. “O custo mais otimista para a restauração com mudas é de cerca de R$ 22 mil por hectare, enquanto que, da forma que propomos, cai para um valor de R$ 5 mil a R$ 7 mil”, explica Keiko.

 

A utilização de cambão (instrumento utilizado pelo pequeno agricultor para bater feijão, adaptado para obter sementes), plantadeiras e tratores, por exemplo, fazem com que os trabalhadores rurais utilizem ferramentas já conhecidas do dia a dia também para a restauração ambiental, reduzindo custos e obstáculos encontrados.

 

CERRADO – Esse é o segundo maior bioma da América do Sul. Ocupa cerca de um quarto do território brasileiro e é a savana mais rica em biodiversidade do mundo, abrigando 11.627 espécies de plantas nativas já catalogadas.

 

No dia 11 de setembro, comemora-se o Dia do Cerrado e uma série de atividades comemorativas com foco em mobilização e educação ambiental acontecem no Faculdade UnB Planaltina (FUP) e em diversas regiões do Distrito Federal. Confira aqui a programação da IV Semana do Cerrado da FUP.  A programação da Virada do Cerrado pode ser conferida aqui.

 

>> Baixe aqui a Cartilha de restauração do Cerrado