Pesquisadores da UnB mostram que espécies insetívoras do mamífero são exímias predadoras de artrópodes considerados prejudiciais a lavouras. Economia com uso de agrotóxicos é de até US$ 94 por hectare de milho

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Apesar de muitas vezes perseguidos e associados apenas à transmissão de doenças, como a raiva, os morcegos são atores importantes nos ciclos ecológicos: eles dispersam sementes e polinizam plantas, como, por exemplo, o pequi. O que não se sabia, até o momento, é que os morcegos insetívoros brasileiros que vivem nas cidades também contribuem para o controle natural de pragas em plantações.

 

Em artigo publicado na revista científica internacional PloS ONE, pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (IB/UnB), em parceria com o Instituto Tecnológico Vale, apontam que os morcegos insetívoros são exímios predadores de artrópodes considerados pragas agrícolas, como a lagarta do cartucho.

 

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Inicialmente, os pesquisadores esperavam encontrar nas fezes dos morcegos que habitam as cidades insetos associados às áreas urbanas, como mosquitos, pernilongos, cupins voadores, mariposas e besouros. Para isso, foram analisados os traços de DNA nas fezes de cinco espécies de morcegos urbanos.

Professora Ludmilla Aguiar foi uma das poucas mulheres no mundo reconhecidas por pesquisas sobre morcegos. Foto: Amália Gonçalves/Secom UnB

 

Eis que houve uma surpresa: na análise, foram identificadas mais de 40 espécies de insetos, muitos deles pragas agrícolas de culturas importantes para a economia nacional, como soja, milho e algodão. Isso indica que, graças às suas habilidades de voar longas distâncias, os morcegos insetívoros que vivem em áreas urbanas auxiliam na redução de pragas nas lavouras e, consequentemente, do uso de pesticidas químicos em plantações.

 

“Nosso estudo mostra que, independentemente do local onde os morcegos se abrigam, eles são essenciais para a prestação de serviços ecossistêmicos nas cidades, com impactos extensos nas lavouras e em outros lugares, além de significativa economia no uso de agrotóxicos”, diz a líder da pesquisa, professora Ludmilla Aguiar, premiada por seus estudos sobre morcegos.

 

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De acordo com a estimativa dos pesquisadores, este serviço ecossistêmico dos morcegos pode gerar uma economia de US$ 94 por hectare de plantio de milho, representando um montante anual de US$ 390,6 milhões por safra no País. “É a primeira vez que calculamos o valor desse serviço no Brasil. Apenas nos Estados Unidos havia projeção desse valor para a cultura de algodão”, afirma a docente.

 

Este dado torna-se ainda mais relevante quando analisado perante o cenário nacional, no qual a produção agrícola é responsável por mais de 20% do produto interno bruto (PIB) e o consumo de agrotóxicos é um dos maiores do mundo. Apenas em 2018, conforme aponta o artigo, o Brasil utilizou 377.176 toneladas de agrotóxicos, dos quais importou o equivalente a US$ 3 bilhões.

Mapa sinaliza os cinco pontos onde foram encontradas as colônias de morcegos para o estudo. Imagem: Reprodução

 

AMOSTRAS – Para realizar o estudo, os pesquisadores capturaram morcegos em cinco colônias encontradas em edificações urbanas, duas em Brasília e duas em cidades da divisa do Distrito Federal com Goiás. Uma colônia de Nyctinomops laticaudatus foi localizada na Universidade de Brasília (Asa Norte/Brasília); uma colônia de Cynomops planirostris e uma de Molossus molossus, no bloco comercial 405 Sul (Asa Sul/Brasília); uma colônia de Eumops perotis, em um prédio em Valparaíso (GO); e uma colônia de Histiotus diaphanopterus, no Residencial Vendinha, em Padre Bernardo (GO).

 

A captura e a coleta do material para análise foram feitas em 2018, nos meses de março, na estação chuvosa na região, e em julho, na época da seca. Após a obtenção do material fecal, foram feitas análises de DNA para investigar quais artrópodes foram consumidos pelas espécies. A pesquisa teve o apoio do Instituto de Tecnologia Vale para a parte do sequenciamento genético e foi autorizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

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