Suplementação apenas de ferro para tratar a doença pode levar a quadro de toxicidade.

Quem sofre de anemia deve tomar suplemento de ferro, certo? Nem sempre. Uma pesquisa realizada na Universidade de Brasília mostra que, muitas vezes, a doença pode estar associada à deficiência de vitamina A no organismo – e não à do mineral. "A carência de ferro e de vitamina A são as maiores carências nutricionais no mundo, hoje. E elas coexistem", diz a autora do estudo, a mestre em Nutrição Fernanda Ribeiro Rosa.


De acordo com Fernanda, desde os anos 1980, pesquisas vêm demonstrando que, quando há deficiência de vitamina A, a concentração de ferro nos tecidos fica alterada. "Mas essa interação não está clara ainda, daí o nosso estudo", explica a autora da dissertação de mestrado Deficiência de vitamina A altera o status de ferro e de estresse oxidativo em ratos, defendida neste mês.


Segundo ela, a ausência da vitamina interfere no metabolismo do ferro, fazendo com que ele fique acumulado em alguns tecidos e prejudique o processo de produção de hemoglobinas – os glóbulos vermelhos do sangue. "Ou seja, tudo indica que o ferro fica retido nos tecidos e reduzido na corrente sanguínea".


O trabalho foi feito com cobaias animais, observadas durante 45 dias. Os ratos foram separados em dois grupos. Em um, a dieta era a padrão de vitamina A; no outro, totalmente isenta da vitamina. Depois do período de observação, os animais foram sacrificados. A pesquisadora avaliou, então, baço, intestino e fígado das cobaias, e constatou alteração nas concentrações de ferro e danos oxidativos nos órgãos dos animais deficientes em vitamina A.


OXIDAÇÃO -
"Considerando que a vitamina A é antioxidante, a carência dela pode levar ao que chamamos de estresse oxidativo, já que o ferro é oxidante. O estresse oxidativo é o aumento de radicais livres, substâncias responsáveis pelo envelhecimento precoce e doenças crônicas não degenerativas, como hipertensão, diabetes e câncer", explica a professora do Departamento de Biologia Celular Sandra Arruda, que orientou a pesquisa.


Apesar de ter sido realizado com animais, o estudo permitiu à aluna chegar à conclusão de que, quando a anemia ferropriva é diagnosticada, é preciso investigar se o indivíduo também apresenta deficiência de vitamina A ou outro problema metabólico. "Se o paciente for tratado apenas com suplementação de sulfato ferroso, o problema pode até se agravar, pois isso levará a um quadro de toxicidade, aumentando a concentração de ferro nos tecidos e o risco de doenças crônicas", aponta.


De acordo com Fernanda Ribeiro Rosa, um próximo passo na investigação seria o acompanhamento dos ratos por um período mais longo que 45 dias. "Assim, poderíamos verificar os efeitos cumulativos no organismo desses animais", diz.