SUSTENTABILIDADE

Alunos de Ciências Ambientais analisaram composição de resíduos sólidos gerados pela comunidade. Produção de dejetos no campus dobrou em 20 anos

 

Estudo foi conduzido por estudantes de Ciências Ambientais durante disciplina Trabalho Interdisciplinar Integrado II. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

Quem caminha pelo campus Darcy Ribeiro da UnB possivelmente se depara em seu trajeto com contêineres espalhados por diversos pontos próximos aos prédios administrativos, faculdades e institutos. Dentro deles, dezenas de sacos com os mais diversos tipos de materiais descartados: papel, plástico, vidro, alumínio, restos de comida, entre outros – muitos dispensados de maneira incorreta se considerados os parâmetros para realização da coleta seletiva. 

 

Além disso, grande parte do que é descartado vai parar diretamente no aterro sanitário. Diariamente, mais de 3,5 toneladas de resíduos sólidos são gerados no campus, quase o dobro do que era produzido há duas décadas. Desse total, 63,33% correspondem a rejeitos, ou seja, lixo que, pelas características de degradação ou pelo condicionamento indevido, não podem ser reciclados e, com isso, deixam de ser aproveitados por cooperativas de catadores.

 

Os dados, um tanto quanto preocupantes, foram levantados em projeto desenvolvido por estudantes da graduação em Ciências Ambientais, no segundo semestre de 2017, para a disciplina Trabalho Interdisciplinar Integrado II. Esta é a segunda vez que informações dessa natureza são obtidas sobre o campus – o primeiro levantamento ocorreu há quase 20 anos.

 

“A área das ciências ambientais é muito holística. Ela olha tanto para o lado ambiental quanto para o social e o econômico. O lixo mal tratado abrange muito bem essas três perspectivas: polui o meio ambiente, degrada o social e perde valor econômico”, expõe o estudante Renato Hama, um dos integrantes do projeto.

Estudantes despejam sacos de lixo coletados no campus para caracterizar os materiais presentes. Foto: Arquivo pessoal

 

A partir do método da gravimetria, o grupo conseguiu obter um panorama da situação dos resíduos sólidos na Universidade. A técnica permite identificar a composição do lixo produzido, mensurar o volume e avaliar as formas de destinação adotadas. Um dos maiores problemas diagnosticados foi a falta de separação adequada dos resíduos que poderiam ser reaproveitados.

 

“Os materiais têm potencial de reciclagem, mas esse potencial pode ser perdido se eles forem misturados a algumas substâncias. Então, aquilo que podia ser reciclado acaba indo para o aterro sanitário, porque virou rejeito”, explica Thauany Pires, aluna envolvida na iniciativa.

 

DE OLHO NO LIXO – Durante uma semana, os estudantes, com o apoio da Prefeitura do Campus, acompanharam a coleta e o armazenamento do lixo no Darcy Ribeiro. A partir da separação e caracterização dos resíduos produzidos diariamente, foi possível identificar os principais componentes presentes e ainda fazer projeções estatísticas do lixo gerado semanal e anualmente, considerando o período letivo (confira os resultados no gráfico abaixo).

 

A maior parcela dos elementos encontrados foi classificada como orgânico (50,4%), enquanto o lixo seco representa 34,27% do total. Entre os recicláveis, predominam papelão (12,41%), plástico (7,92%) e papel (5,07%). No caso dos objetos de papel, os estudantes relataram dificuldades em analisar grande parte do material, por estar contaminado com restos orgânicos e, consequentemente, inadequado para reciclagem.

 

A pesquisa estimou ainda que cada pessoa da comunidade é responsável por gerar cem gramas de lixo por dia. Os cálculos também apontam para produção semanal e anual no campus: cerca de 25 mil quilos e quase 1,3 mil toneladas, respectivamente. Se considerado apenas o ano letivo, incluindo o período de oferta das disciplinas de verão, o número cai para, aproximadamente, 1,1 mil toneladas.

 

Para chegar a essas estatísticas, foi necessário georreferenciar os contêineres dispostos pelo campus. O grupo localizou 126 contêineres, sendo que, desses, 34,27% não possuíam a indicação do tipo de resíduo que deveriam receber e 6,35% se encontravam danificados ou inutilizados – ocasionando depósito inadequado do lixo. Para a realização da gravimetria e das projeções foi considerada a amostragem de resíduos acumulados em apenas 31 caçambas, levado em conta o tempo para análise.

 

Gráficos adaptados da pesquisa sobre resíduos sólidos no campus Darcy Ribeiro. Artes: Marcelo Jatobá/Secom UnB

 

CONTRIBUIÇÕES – Apesar de os dados apontarem para a necessidade de se repensar a destinação do lixo na Universidade, as causas e as soluções para o problema não foram estudadas. A graduanda Heloísa Dourado aposta, no entanto, que as informações reunidas podem subsidiar a realização de novas pesquisas para ampliação da abordagem. “A ideia daqui para frente é conseguirmos, em todo semestre, um grupo interessado nesse assunto para que possamos continuar a desenvolver cada vez mais esse projeto.”

 

Os alunos esperam ainda que os resultados possam estimular medidas por parte da comunidade universitária para modificar esse cenário. Para Renato Hama, essas contribuições perpassariam a adoção de ações que não só melhorem o tratamento de lixo pela instituição, com ampliação da possibilidade de reaproveitamento, mas também impactem em sua economia e, consequentemente, gerem renda para as famílias de catadores de lixo.

 

“Além de ter sido feito um trabalho socioambiental para a Universidade, isso pode gerar uma redução de custo. Se o lixo é deixado como está, a instituição tem que pagar uma empresa para fazer a maior parte do recolhimento, em vez de ser recuperado pelas cooperativas de catadores”, afirma.

 

Os resultados da pesquisa poderão ser utilizados na elaboração do Plano de Resíduos Sólidos da UnB. Informações similares sobre a Faculdade de Planaltina (FUP), sistematizadas em uma monografia, já têm embasado ações de gerenciamento de resíduos adotadas no campus. O plano da Universidade está em fase de estudos por comissão instituída no âmbito da Reitoria. “Estamos desenvolvendo as diretrizes que sistematizam o gerenciamento de resíduos na Universidade para termos atuação nos campi. Por isso, essas informações são importantes”, reforça o professor Pedro Zuchi, um dos membros da comissão e responsável pela disciplina que deu origem à pesquisa.

 

Além das contribuições acadêmicas, o docente reconhece que o projeto contemplou os requisitos propostos pela disciplina ao estimular o aprendizado de forma prática, integrado a diferentes áreas do conhecimento, a partir da temática da sustentabilidade. “Esse trabalho é importante não só do ponto de vista de gerar dados para a Universidade, mas também de aprendizagem, já que os estudantes vão construindo e consolidando experiência em suas carreiras”, considera Zuchi.

 

 

 

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