Professor do Instituto de Geofísica da UnB compõe a equipe de cientistas que conseguiu determinar a origem da argila Belterra.

Foto: Mariana Costa/UnB Agência

Um grupo de geólogos e pesquisadores lançou artigo que põe fim aos questionamentos a respeito da origem da argila Belterra, camada de sedimentos que cobre boa parte da Bacia Amazônica. O trabalho, produzido por cientistas do Brasil, Estados Unidos e Alemanha e publicado pela revista científica Earth and Planetary Science Letters, afirma que a Belterra é derivada de rochas encontradas na Amazônia.


Um dos pesquisadores responsáveis pelo artigo, o professor do Instituto de Geociências (IG) João Willy Rosa, explica que havia uma teoria "interessante" em vigor desde os anos 60, quando os primeiros pesquisadores holandeses e alemães questionaram a origem da camada. Eles levantaram a hipótese de que a argila teria sido trazida pelos ventos do Norte da África. "Havia uma curiosidade imensa sobre isso, pois gera uma implicação direta no estudo que temos de transporte de material na atmosfera terrestre", diz o professor.

O trabalho envolveu a coleta de material em diversos sítios localizados no Norte da África, em Cabo Verde e na Bacia Amazônica. Uma outra hipótese levantada para a grande concentração dessa argila no local foi a de que os sedimentos seriam derivados de material da Cordilheira dos Andes (em especial, oriundo de erupções vulcânicas).


Para a investigação das possíveis teorias, foram realizados testes geoquímicos de alta complexidade. Os resultados, apontando que a argila Belterra teria origem em rochas encontradas na Amazônia, solucionaram um dilema científico de 50 anos. "Essa descoberta foi possível, na atualidade, devido ao avanço das tecnologias no segmento da Geologia, não foi por incompetência dos cientistas da época”, enfatiza Rosa.


Segundo o professor João, a descoberta pode auxiliar em estudos sobre o aquecimento global e também é importante no entendimento das camadas do solo brasileiro. "Muitas vezes as pessoas pensam que esses artigos são somente para o meio acadêmico, quando na verdade impactam diretamente a vida delas”, disse o professor. "Saber de onde veio a argila Belterra, por exemplo, gera implicações na hora de estudarmos sua fertilidade e outros elementos", completa.


Além do professor João Willy Rosa, outra representante brasileira na equipe foi a professora Adriana Horbe, da Universidade Federal do Amazonas, atualmente pesquisadora visitante na UnB.