63% dos produtores de frutas e verduras sem agrotóxicos ouvidos em pesquisa consideram o transporte inadequado e 14% afirmam que ele é insatisfatório. Todos levam pessoalmente suas mercadorias aos atravessadores.

Produtores de frutas e verduras orgânicas ganham, em média, 20% a menos do que poderiam por problemas de logística. Essa é uma das conclusões da dissertação de mestrado de Feruccio Branco Bilich, defendida no Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da UnB. Feruccio entrevistou os produtores do DF, observou o comércio de produtos no Mercado de Orgânicos e apontou sugestões para melhorar a logística de produção. A ideia era avaliar o grau de satisfação dos produtores na logística de produção e distribuição de suas mercadorias.


A principal dificuldade encontrada pelos agricultores é com relação ao transporte da mercadoria. Dos 14 entrevistados, 63% disseram considerar o transporte inadequado e 14% afirmaram que ele insatisfatório. Todos eles transportam pessoalmente suas mercadorias em suas próprias caminhonetes, que sempre viajam com baixa taxa de ocupação. Além disso, os produtores ficam esperando no mercado para trazer de volta as caixas de plástico usadas para transporte e mercadorias que sobrarem. Alguns produtores chegam a ficar mais de seis horas no mercado, perdendo o tempo que poderiam estar em suas terras produzindo. 
 
Para contornar esse problema, Feruccio sugeriu que os produtores se organizassem para que somente um levasse os produtos de todos. “A maior parte das propriedades são próximas umas das outras, só é necessário organizar um roteiro”, explica o pesquisador.
 
O pesquisador também perguntou aos produtores o que pensavam com relação aos custos de produção. Eles avaliam que os custos com transporte são de grande impacto no custo global. Convidados a dar uma nota de 0 a 10 ao impacto que o transporte tem nos custos globais, 71,4 dos entrevistados deram 7.
 
Outro fator considerado pesado nos custos foram as perdas por falta de produto:  57,1% também deram nota maior que 7. “Essas perdas podem diminuir com um melhor planejamento de produção e principalmente do transporte”, conta Feruccio. Estima-se que a perda chegue a 20%.
 
CARACTERIZAÇÃO – Dados levantados pelo Sindicato dos Produtores de Orgãnicos do Distrito Federal e pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) mostram os empreendimentos de agricultura orgânica ocupam cerca de 2,8 mil hectares no Distrito Federal. Em média, o DF produz cerca de 3 mil toneladas por ano, sendo 85% do total oleorícolas, que são as principais hortaliças de importância econômica e alimentar. 
 
Dados do Censo Agropecuário do IBGE de 2006, revelam que dos 3,9 mil estabelecimentos agropecuários do DF, 161 declararam trabalhar com produtos orgânicos. Desses, somente 24 são certificados por empresas especializadas.
 
A produção orgânica gera entre três e seis empregos por hectare, requer pouca extensão de terra para ter viabilidade econômica e pouco investimento para início das atividades.
 
Feruccio explica que, em geral, a produção orgânica tem mais custos porque, como não usa agrotóxicos a adubação sai mais cara e os produtos são mais sensíveis. Ainda assim, os retornos financeiros compensam. “Os produtos são vendidos a preços melhores. O tomate chega a ter uma diferença de 200% em relação ao comum”, exemplifica.