Cerca de 160 funcionários correm riscos de adquirir doenças como AIDS, meningites e hepatites em acidentes com o lixo sólido do hospital.

Somente no ano de 2008, pelo menos 15 funcionários sofreram acidentes com resíduos sólidos contidos no lixo do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN). Outros 10 casos já foram registrados neste ano. Eles se cortaram com agulhas, lâminas e bisturis usados por pacientes, o que os expôs à contaminação de doenças como aids, hepatites e meningites.


A pesquisa da enfermeira Marina Afonso Dutra chama atenção para um problema que está na pauta da saúde do DF: a partir desta quarta-feira, 28 de outubro, o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) não vai mais recolher o lixo hospitalar, esse trabalho terá que ser feito pelas próprias instituições e pelos fornecedores de material hospitalar.


Em sua dissertação de mestrado, Marina mostra que 160 funcionários do hospital estão expostos ao risco de contaminação por lixo hospitalar. Durante o estudo, a pesquisadora observou e analisou a coleta e o manejo do lixo no ano de 2008. Ela e os alunos de um programa de extensão da UnB observaram o fluxo e o manejo do lixo, tanto pelos profissionais de saúde como pelos funcionários de limpeza do hospital. Eles reclassificaram o lixo produzido neste período segundo as determinações da Anvisa: em lixo biológico, químico, comum e perfurocortantes. Ela detectou falhas nos processos de gerenciamento e de manipulação de objetos descartáveis e perfurocortantes – agulhas, lâminas, bisturis. “A maioria dos profissionais do HRAN sequer sabem o que são resíduos de saúde. Isso aumenta a incidência de acidentes com perfurocortantes, o que pode causar alguma contaminação séria”, alerta.


Marina aponta que, embora exista no HRAN a coleta classificatória, conforme determina a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o procedimento não é cumprido nos ambientes de enfermagem. Além disso, a Anvisa não fiscaliza se os equipamentos e materiais de limpeza, além dos depósitos externos de lixo do hospital, são adequados.


De acordo com João Pereira de Souza, 56 anos, coordenador de limpeza no hospital, o motivo dos acidentes está nos profissionais de enfermagem, que não depositam o lixo no local correto. A coleta classificatória determina recipientes e locais específicos para cada tipo de lixo produzido em hospitais. Porém, falta a estes profissionais consciência quanto ao cumprimento das normas. “Os profissionais de enfermagem devem tomar mais cuidado para não expor funcionários do próprio hospital a esse tipo de risco”, comenta João.


O não-cumprimento da coleta classificatória faz com que outros funcionários do hospital tenham contato com agulhas e bisturis contaminados. “Os funcionários de limpeza que removem os sacos das lixeiras são os mais expostos a riscos. Na maioria das vezes, eles acham que transportam lixo comum e só descobrem o real conteúdo do pacote quando se ferem em agulhas, bisturis e outros materiais cortantes”, explica o coordenador da limpeza.


João diz ainda que as equipes de limpeza, tanto as terceirizadas quanto as da Secretaria de Saúde, passam por capacitação periodicamente para lidar com a situação. Mas o que falta é a cooperação dos outros profissionais.


João Luiz Arantes, novo diretor do HRAN, assumiu a administração do hospital na semana passada e não quis se pronunciar sobre o assunto. Segundo Berenice Britto, diretora de Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde, esse problema é comum a quase todos os hospitais da rede pública do DF. Desde abril, estão sendo realizados cursos que padronizam a manipulação destes resíduos. "O objetivo é reduzir o número de autuações e de acidentes que coloquem em risco a saúde dos profissionais de saúde", esclarece.