Pesquisa da UnB mostra que 30% dos postos de saúde no Brasil não fazem o diagnóstico da doença.

A hanseníase é uma das doenças mais antigas da humanidade. Antigamente conhecida como lepra, já era conhecida desde 1.350 a.C.. Hoje em dia, é facilmente curável com tratamento a base de comprimidos. Porém, no Brasil, ainda é uma doença persistente. Entre 2001 e 2008, foram notificados 370 mil casos novos da doença. Uma média de 46 mil novos casos por ano.


“Nós somos um dos poucos países que ainda não eliminaram a doença como problema de saúde pública”, afirma o pesquisador Alexsandro Cosme Dias, autor da dissertação de mestrado “Avaliação do Desempenho do Programa de Eliminação da Hanseníase”. Seu trabalho revela a preocupante situação operacional do Programa Nacional de Controle da Hanseníase, realizado pelo Ministério da Saúde.


Segundo Alexsandro, o maior problema está na atenção básica, que ainda não capaz de executar as orientações do Ministério da Saúde. Para fazer sua pesquisa, Alexsandro entrevistou 762 profissionais que atuam na Estratégia de Saúde da Família (ESF), responsável por oferecer o serviço de atenção básica à saúde nos municípios brasileiros, em 21 das 206 cidades consideradas prioritárias para o tratamento da doença em todo o país. os questionários foram aplicados nas cinco regiões brasileiras, de maio de 2006 a setembro de 2007.


Os resultados mostram o desleixo do Estado na prevenção, diagnóstico e tratamento da doença. Do total, 30% das equipes entrevistadas não realizam o diagnóstico de hanseníase. Dentre as equipes que realizam, apenas 29% fazem o diagnóstico pelo exame dermatoneurológico, considerado pelo Ministério da Saúde como método mais completo na avaliação clínica dos casos. A segunda dose da vacina BCG, utilizada para o controle dos contatos, é administrada por apenas 37,5% das equipes que participaram do estudo.


Alexsandro também mostra que a falta de cuidado é maior nos locais onde mais se precisa de atenção. A região Norte é a que apresenta a maior incidência da doença, e também a que tem a menor freqüência de realização de atividades para controle da doença. Apenas 65% das equipes locais realizam ações de controle da hanseníase. Nas outras regiões, esse índice é de 90%, em média.


Como recomendações para qualificar o Programa de Controle da Hanseníase nos municípios, Alexsandro aponta algumas medidas: melhorar o acesso às ações do programa por meio da ampliação da atenção básica; treinamento de profissionais para a realização do diagnostico e tratamento da doença; simplificar a logística para aquisição de medicamentos nas áreas de maior incidência; e integrar as ações da atenção básica aos serviços de referência. O pesquisador também destaca a importância de se realizar campanhas educativas para eliminar o estigma em torno da doença e conscientizar a população sobre os sintomas da doença.


Para o professor Edgar Hamann, orientador da dissertação, um dos pontos principais levantados pelo trabalho de Alexsandro é a dificuldade de se fazer o diagnóstico da hanseníase. “Os profissionais ainda não se sentem seguros para fazer o diagnóstico precoce da doença”, afirma. Segundo o professor, um treinamento mais adequado ajudaria muito os profissionais da atenção básica.


O Ministério da Saúde foi informado sobre as conclusões da pesquisa, mas preferiu se pronunciar só após analisar a íntegra da dissertação, que tem mais de 100 páginas.