Em entrevista ao UnBCiência, ganhador do Nobel de Química em 2010 contou como chegou a reação que lhe garantiu o prêmio e recomendou aos pesquisadores que façam descobertas úteis à vida humana.

Dois livros de Química Orgânica. Esse foi o ponto de partida para o jovem Akira Suzuki decidir qual curso faria na Universidade de Hokkaido, no Japão. A dúvida pairava entre a ciência das combinações carbônicas e a Matemática.


Foi com uma foto desses livros que o vencedor do Prêmio Nobel de Química de 2010 começou a palestra que motivou estudantes da Universidade de Brasília a sonharem com uma vida de pesquisa e estudos, nesta quarta-feira, 31 de agosto. Durante uma hora, ele falou para uma plateia de aproximadamente 200 jovens que lotaram o auditório do Instituto de Química. Antes, concedeu entrevista ao UnBCiência.


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O autor dos livros que inspiraram o então estudante japonês é o londrino Herbert Brown, que viria a ganhar o Prêmio Nobel em 1979, justamente o ano em que Suzuki descobriu a reação que garantiu a ele a mesma láurea que o mestre, 31 anos mais tarde. Quando Suzuki procurou o professor Brown, em 1963, para que ele o orientasse no pós-doutorado, nenhum dos dois suspeitava que entrariam para o rol dos ganhadores do Nobel. Em comum, persistência, obstinação e muito estudo. Durante os dois anos que esteve sob a orientação do professor britânico, Suzuki leu 33 vezes um dos livros do mestre.


A Reação de Suzuki, que lhe rendeu o Nobel, usa uma ligação carbono-boro, junto com uma ligação carbono-halogênio – halogênios são os não-metais do grupo 7A da tabela periódica – para catalisar a ligação entre carbonos. O mérito da descoberta foi a escolha dos elementos que formaram a base para que a reação ocorresse. Na UnB, Suzuki falou da vida acadêmica, da reação que lhe rendeu o Nobel e contou como recebeu a notícia de que tinha sido um dos escolhidos para o prêmio, que dividiu com Richard Heck e Ei-ichi Negishi,. “Estava na sala de casa, minha esposa atendeu o telefone e passou pra mim, dizendo que a ligação trazia boas notícias de Estocolmo”, lembrou.


A partir da Reação de Suzuki, alguns fármacos contra o câncer e hipertensão foram fabricados. Além disso, a descoberta do pesquisador japonês é o ponto de partida para a criação de telas de cristal liquido e lâmpadas de LED orgânico, as OLEDS (Organic Light-Emitting Diode, em inglês, que significa diodo orgânico emissor de luz).


O reitor da UnB, José Geraldo de Sousa Junior ressaltou o caráter humanitário da descoberta do cientista. “Ele desenvolveu produtos e artefatos que contribuem para a melhoria da vida, incluindo medicamentos que implicam na estabilidade do metabolismo humano”, afirmou.


PLATEIA –
 Entre os futuros químicos, profissionais de destaque na área prestigiaram o professor Susuki. Eles estão em Brasília para o 14th Brazilian Meeting on Organic Synthesis. O pesquisador japonês abrirá o simpósio, nesta quinta-feira, 1o de setembro.


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Teodoro Kaufman, do Instituto de Química Rosario, na Argentina, ficou impressionado com a simplicidade do ganhador do Nobel. “Foi uma lição de humildade”, disse. “Ele resumiu mais de 40 anos de pesquisa em uma só hora, de um jeito simples que só as boas pessoas podem fazer”. Kaufman atribui a maioria das tecnologias atuais à Reação de Suzuki. “Ele não é só um grande cientista, mas um grande homem”.


O professor Carlos Kleber Zago, secretário-geral do encontro internacional e responsável pela vinda de Suzuki a Brasília, espera que a palestra desperte nos alunos da UnB a vontade de seguirem carreira de pesquisa em Química Orgânica. “ “Que a palestra de hoje seja como o livro que inspirou o professor Suzuki”, comentou.


Jéssica Delavechia, aluna do quarto semestre de Química, ficou estimulada com a apresentação do pesquisador. “Quando você vê um Prêmio Nobel da área que você gosta, é um estímulo para novas ideias”. João Victor de Moraes, do quinto semestre, avalia o prêmio de Suzuki como o auge da carreira. “É a compensação de todas as horas sem dormir, correndo atrás de coisas para a pesquisa”, destacou. “E é raro poder ver um Prêmio Nobel. Não somos acostumados. É bem diferente, bem bacana”.