Ideia surgiu quando um aluno questionou o desperdício de água: para se fazer 3 litros de água destilada, 97 litros são jogados fora.

O estudo de Química no ensino médio deve ir além da tabela periódica, deve envolver questões sociais e ambientais. Com esse conceito em mente, o professor Paulo César Ramos desenvolveu em seu mestrado na UnB construir uma engenhoca capaz de reutilizar a água desperdiçada pelo destilador do laboratório da escola. “O reuso da água como tema gerador para o desenvolvimento do processo de ensino de química”


No laboratório, três litros de água destilada consomem cerca de 100 litros de água potável. Indagado por um aluno de uma de suas classes se não havia uma forma de não desperdiçar tanta água, o professor Paulo resolveu aceitar o desafio. “Meu objetivo foi mostrar como os conhecimentos trazidos pelos alunos do seu cotidiano podem ser aplicados na construção de experimentos acadêmicos”, explica. A dissertação "o reuso da água como tema gerador para o desenvolvimento do processo de ensino de química” foi defendida em dezembro de 2008 no departamento de Química da UnB.


Paulo trabalhou com 20 alunos da escola. A engenhoca construída tem como base estudos de Química e Física e utiliza conteúdos aprendidos no ensino médio, como pressão, volume, temperatura. “Discutimos os conceitos por meio dos experimentos práticos em diferentes aspectos. No decorrer do trabalho, descobrimos que a invenção poderia ser usada para outros aprendizados”, afirma Paulo.


Gerson Mól, orientador de Paulo, explica que o mestrado profissional de Química da UnB é para atender os professores do ensino básico. “Buscamos voltar a pesquisa para as escolas, como em educação ambiental, ensino de ciências e outros”, afirma. Segundo Gerson, a invenção não foi patenteada para que outros professores possam utilizar nas suas escolas. “Fazemos uma química útil para a sociedade”, conclui.


ETAPAS DE CONSTRUÇÃO –
Com a ajuda do serralheiro da escola, o grupo conseguiu fazer a base do aparelho. A segunda etapa foi pegar duas caixas de água e colocá-las em níveis diferentes. Na primeira caixa, na parte de cima, fica a água potável que circula até o destilador. Embaixo está a caixa que recebe a água que seria desperdiçada.


Para que a água potável circule, foi preciso instalar uma bomba. Segundo Paulo, foram usados instrumentos conhecidos, do cotidiano dos alunos, para montar o experimento. “Percebemos que na montagem a sujeira se acumulava. A próxima etapa foi fazer um filtro inspirado naqueles de piscina”, disse. No processo, professor e alunos descobriram que a invenção poderia ser usada para outros estudos. “Compreender nosso aparelho nos fez conhecer mais de física, por exemplo”, afirma.


A água destilada do laboratório da escola é empregada principalmente na produção de cosméticos. No caso da água potável que sobra na caixa de água, ela atualmente é usada para regar as plantas da escola. “Além do experimento em si, eu gostaria que os alunos visualizassem a ideia de como é ingressar na universidade”, declara Paulo. Segundo ele, depois do projeto, cinco alunos já conseguiram entrar no ensino superior, quatro deles na UnB. Outro aluno já manifestou o interesse em cursar Química.