Inovação pode mudar a maneira com que mapas esquemáticos são usados no mundo e facilitar a informação para turistas e moradores.

Dona Rica viaja de ônibus todos os dias. Vai e volta de sua casa, em São Sebastião, para o trabalho, no Lago Sul. Às vezes, precisa chegar ao Plano Piloto e em alguns fins de semana aproveita o Parque da Cidade. Como muitos outros usuários do transporte público no Distrito Federal, ela faz seu roteiro baseada no que aprendeu com outros passageiros, cobradores e conhecidos. Nunca teve acesso a tabelas de horários nem mapas atualizados.


A experiência de dona Rica inspirou a monografia do final do curso de Ciências da Computação do aluno Marcelo de Lima Galvão. Dona Rica trabalha na casa do estudante. Marcelo criou um programa que permite ao usuário do transporte público ter um mapa mais simples, rápido e eficiente em mãos. O programa usa informações de bancos de dados como o Google Maps ou GPS, por exemplo, para criar mapas esquematizados chamados octalineares.


Concebido pela primeira vez por Henry Beck em 1933, para o metrô de Londres, esse tipo de mapa virou um clássico do design mundial e hoje é o principal padrão para representar redes de transporte coletivo. Normalmente, octalineares são feitos à mão e exigem conhecimentos específicos dos desenhistas. Mesmo que seja feito em computadores, a criação demora dias se forem usadas muitas paradas. O programa criado por Marcelo promete mudar essa relação. O tempo para criar um mapa octalinear é de, no máximo, 15 segundos. O programa também tem atualização constante. O usuário pode selecionar somente as linhas que usa ou que pretende usar com resultados personalizados e diretos. “O principal beneficiado seria o turista, que precisa de uma informação mais direta”, diz Marcelo.


Tudo isso foi possível pela maneira inovadora de programar esses mapas. Na computação, esse é um problema considerado dos mais difíceis, senão impossíveis de resolver, chamados de NP-completo. “Em um mapa esquemático, você tem infinitas possibilidades e é impossível saber qual a melhor”, explica Marcelo. A solução encontrada pelo estudante foi usar algoritmos genéticos como um atalho para criar os mapas. Marcelo lembra que quando a ideia surgiu, surpreendeu-se. “O uso dos algoritmos genéticos caiu como uma luva”, diz.


Algoritmos genéticos são fórmulas matemáticas que, quando entrecruzadas entre si, geram novas fórmulas. Como animais, elas se reproduzem e evoluem a cada geração. O método serve para criar, de forma automatizada, modelos mais complexos e eficientes. Isso acontece em segundos e, no caso do programa de Marcelo, gera um mapa octalinear com o resultado mais adaptado. Essa característica permite que o mapa seja constantemente modificado. Por exemplo, se o usuário girar o mapa, ele faz novos cálculos e cria outro esquema, mais adaptado àquela visão. “Essa ferramenta é uma necessidade tremenda para a cidade”, diz o professor de engenharia civil Pastor Gonzales, que participou da banca de Marcelo.


Marcelo pretende continuar seus estudos em uma pós-graduação, mas também busca parcerias com empresas privadas. A ideia é criar um aplicativo para celulares, computadores e também levar o programa para as ruas. “As paradas poderiam ter mapas impressos ou eletrônicos atualizados que indicariam quais as linhas saem dali de maneira mais direta do que um mapa por satélite”, diz.


ALEMANHA –
 Desde o começo de sua graduação Marcelo pensava em criar soluções para o transporte público, mas foi o intercâmbio na Alemanha que lhe abriu os olhos. Ele morou em Freiburg, cidade de 200 mil habitantes considerada um centro de excelência em termos de sustentabilidade urbana. Segundo Marcelo, era fácil buscar informações e os mapas estavam em todos os lugares. Ao voltar para Brasília, percebeu as deficiências. “Acabo usando só o meu carro, mas poderia ser diferente”, diz.