O professor Mário Lúcio Ávila avaliou a situação dos agricultores que trabalham no território de Águas Emendadas, enquanto a arquiteta Fernanda Pirillo observou o descarte de resíduos de construção civil. Já Robson Lagares expôs as rotinas de combate a incêndios florestais e Roseli Ganem comparou a legislação ambiental com as práticas cotidianas. Por último, a pedagoga Marília Teixeira registrou o dia a dia dos catadores de lixo que atuam nas próximidades do campus Darcy Ribeiro.
As apresentações foram assistidas por técnicos da Câmara Legislativa que auxiliam os parlamentares na elaboração de projetos de lei, além de professores e alunos da UnB. "Essa interação é indispensável para melhorar o trabalho dos deputados distritais, tanto na formulação de leis quanto na fiscalização e controle da gestão pública do Distrito Federal. Foi exatamente com este propósito que organizamos a apresentação dos estudos", comentou Lenora Barbo, organizadora do ciclo de debates iniciado há um mês e concluído nesta segunda-feira.
Durante o período foram apresentados resultados de pesquisas na área de arquitetura e urbanismo, geografia e comunicação. "É louvável a iniciativa de democratização do acesso à informação, compartilhando conhecimentos e contribuindo, assim, para indicar recomendações à gestão pública", comentou Carlos Saito, professor do Centro de Desenvolvimento Sustentável, que assistiu ao debate.
Professor do campus de Planaltina, Mário Lúcio Ávila deu sua contribuição ao apresentar pesquisa de doutorado na qual analisou a relação entre agricultores familiares e técnicos que atuam em Águas Emendadas, área de desenvolvimento rural que engloba o DF e parte de Goiás e Minas Gerais. Desenvolvido a partir do acompanhamento de dois projetos financiados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, o estudo conclui que a participação dos agricultores familiares no território é desproporcional. "Os técnicos têm informações privilegiadas, mas esse conhecimento não chega totalmente aos agricultores. Os programas de assistência técnica não alcançam plenamente o propósito a que são destinados", afirmou.
Mário Lúcio apontou também como obstáculos à consolidação de um programa de desenvolvimento sustentável um planejamento governamental falho, além de contratos frágeis. Como recomendação, ressaltou a necessidade de um reforço no fomento à assistência técnica a esse setor.
Já Fernanda Pirillo, analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), mostrou que a gestão de resíduos de construção civil no DF é precária. "Não há destinação adequada dos resíduos nem fiscalização suficiente para controlar as ações ilegais e os depósitos clandestinos. Nossas obras têm uma cultura de desperdício de até 90%, além de uma postura acomodada por parte da população", explicou.
Segundo a pesquisadora, são descartados diariamente 6 mil toneladas de entulho e quase metade deste material vai para 537 depósitos clandestinos e o restante para o chamado "Lixão da Estrutural", o único autorizado para esse descarte. Como recomendação, sugeriu licitações para a gestão das áreas particulares de recepção desses resíduos, a aplicação de um programa de educação ambiental em larga escala, o fortalecimento do setor dos carroceiros, além de condições de trabalho dos catadores.
INCÊNDIOS – Robson Lagares, major do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, mostrou como o Plano de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do DF, de 1996, vem sendo implementado. Para ele, apesar de a frota de veículos para esse fim ter dobrado em dez anos, bem como o contingente de homens por dia em cada operação de emergência, falta ainda uma melhor estruturação das políticas públicas envolvidas, além de uma melhoria na avaliação permanente dos dados estatísticos gerados. Como exemplo, citou incêndio em 2005 que consumiu 90% do Jardim Botânico. Robson reiterou a necessidade de se investir em prevenção e fiscalização, já que pelas perícias, identificam-se como causadores de 60% dos desastres as ações diretas do homem.
A ausência precária do Estado foi apontada também pela pesquisadora e consultora legislativa Roseli Senna Ganem. Em sua pesquisa “As políticas de conservação da biodiversidade e conectividade entre remanescentes de cerrado”, ela chamou atenção para o perigo que a fragmentação dos habitats de vegetação nativa traz para a biodiversidade, deteriorando-a progressivamente. Além de analisar a ineficácia de certos instrumentos da legislação ambiental, mostrou que somente é possível reduzir esses impactos com uma política que crie e implante unidades de conservação, envolvendo, nesse processo, as próprias comunidades rurais.
Por fim, a pedagoga Marília Teixeira, com mestrado em Educação e Gestão Ambiental, apresentou a realidade de quatro catadores informais de lixo e suas famílias e seus trabalhos de coleta de materiais recicláveis no contexto da Universidade de Brasília. Nos arredores da universidade são coletados 1.700 kg por dia, 42 toneladas por mês. Como metodologia, valeu-se de entrevistas e oficinas de fotografias, em que os próprios catadores registravam elementos significativos de suas rotinas.
Procurada pela UnB Agência, a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Distrito Federal e o Instituto Brasília Ambiental informaram, por meio de sua assessoria de comunicação, que não foram convidados para o evento e que não se pronunciariam oficialmente porque não tiveram acesso aos estudos produzidos pela academia.
Para Othon Leonardos, vice-diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB, o fórum é apropriado justamente por ser um espaço democrático que comporta críticas e debate. “No nosso caso, a universidade só será boa se for criticada”.