Projeto da UnB utiliza bambu e taboca em construções arquitetônicas sustentáveis.

Prédios e instalações feitas com bambu. Uma arquitetura sustentável, que tem tudo a ver com Brasil, é o foco de pesquisas do Projeto Canteiro Oficina de Arquitetura (Cantoar), desenvolvido pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU/UnB). O projeto, coordenado pelo professor Jaime Gonçalves Almeida, tem como proposta principal o desenvolvimento de técnicas de construção com fibras naturais, aliadas a uma ação educativa de conscientização da sociedade para uso racional dos recursos do meio ambiente.


O trabalho, existente desde 1998 é ligado à extensão universitária da UnB e conta com a colaboração de estagiários da FAU, de técnico em marcenaria e de arquiteto. Em 2006, o grupo atende a uma demanda da Associação de Moradores da Granja do Torto para criação de uma cobertura com telhas de bambu em áreas públicas das vilas. A maquete já está pronta e a idéia é que os locais sirvam como espaços de lazer para crianças, protegidos contra o sol e a chuva.


Outro projeto em que os especialistas trabalham é a construção de peças de bambu ripado e madeira para serem usadas em edificações de emergência nos casos de inundação ou outra calamidade pública em que a população precise ser acomodada temporariamente. “Montamos um modelo em tamanho real desse pavilhão num abrigo com quase 2 m de altura”, diz Almeida.


No ano de 2005, o professor participou de um curso de fabricação de fibras de bambu para tecer lâmpadas e esteiras na sede da Rede Internacional de Bambu e Ratam, em Chengdu, quase na fronteira da China com o Tibet. A idéia é transmitir o conhecimento adquirido para agricultores e assentados da reforma agrária em Buritis (MG). O Projeto Barriguda, em referência ao nome da fazenda onde será instalado, está em fase de negociação com o Ministério do Meio Ambiente.


SERINGUEIROS –
O Cantoar também levou conhecimento à Amazônia. Por meio de convênio firmado com o Ibama, em março de 2003, 10 moradores do seringal de Ucuriã, no município de Assis Brasil (AC), receberam em Brasília treinamento para construir com outra fibra natural, a taboca. Ela possui grande resistência e pode ser utilizada na fabricação de móveis. As principais reservas brasileiras de taboca estão concentradas na Reserva Chico Mendes (AC).


“Com o tempo, a iniciativa será estendida para outras cidades da região”, afirma o professor, que explica também: "No Brasil, a maioria das pessoas utiliza a taboca apenas para o estio de casa ou na fabricação de cercas. Um dos nossos objetivos é justamente ampliar e implementar o uso pleno dessa fibra natural".


PRESTÍGIO -
Não faltam razões para o prestígio do projeto, já que bambu e outras fibras, como a brasileira taboca, são plantas de crescimento rápido, cultivo fácil e de boa adaptação climática. Sua utilização é variada, desde os tradicionais móveis, passando pela fabricação de papel, carvão (utilizado em tecnologias de ponta como aparelhos eletroeletrônicos e filtros de ar e água) até os mais diferentes tipos de construção. Outra motivação importante é que a planta é adequada à proposta de desenvolvimento da arquitetura com sustentabilidade ambiental.


As atividades do Cantoar são realizadas sempre com base na experimentação, apoiadas pelo Centro de Planejamento Oscar Niemeyer (Ceplan) da universidade e pela Prefeitura do Campus. O bambu já foi usado na construção do Coreto da Praça da Colina (no campus universitário) e na Escola Agro-Ambiental Comunitária Catêxkwyj, para etnia Kraho, no norte do Tocantins.