Trabalho pretende reduzir carga viral por meio de imunobiológicos. O foco é contribuir para a recuperação de pacientes mais vulneráveis

Foto: Lucas Oliveira Las Casas

A pandemia causada pelo vírus SARS-CoV2 já levou a óbito mais de meio milhão de pessoas em todo o mundo este ano. No Brasil, são mais de 65 mil mortes até agora. As vítimas fatais são acometidas, principalmente, pelo quadro grave da doença, que exige, muitas vezes, terapias invasivas.

 

Achar um tratamento adequado para a covid-19 tornou-se um dos principais focos das pesquisas acadêmicas em 2020. Nesse contexto, a professora Anamélia Lorenzetti Bocca, do Departamento de Biologia Celular do Instituto de Ciências Biológicas (IB) da UnB, propõe uma nova estratégia de tratamento da doença, a fim contribuir para a recuperação de pacientes mais vulneráveis. A proposta utiliza imunobiológicos (uma classe de medicamentos), por meio da geração de anticorpos monoclonais e de moléculas moduladoras de citocinas pró-inflamatórias.

 

O projeto foi aprovado no Programa Estratégico Emergencial de Combate a Surtos, Endemias, Epidemias e Pandemias da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), no Edital de Seleção Emergencial II Capes – Fármacos e Imunologia

 

ANTICORPOS – A estratégia utiliza imunobiológicos, que atuam em duas frentes distintas. Uma delas induz no paciente a geração de anticorpos neutralizantes, capazes de desativar efeitos biológicos que patógenos ou partículas infecciosas possam ter nas células. A outra frente foca na produção de moléculas que reduzam a ativação de neutrófilos e macrófagos, atuando assim tanto na redução da carga viral, quanto na diminuição da inflamação exacerbada.

 

A resposta inflamatória excessiva é uma das causas dos sintomas mais debilitantes da covid-19. O resultado mais conhecido desse processo inflamatório ocorre nos pulmões, que sofrem com fibroses progressivas. Porém, outros órgãos também podem ser afetados por processos inflamatórios, uma resposta natural do corpo para combater mais rapidamente o vírus.

 

De acordo com a professora Anamélia Lorenzetti Bocca, a hipótese de que esta seria uma forma eficiente de tratar a covid-19 foi respaldada pela imunidade observada em pacientes que já tiveram a covid-19. “Observamos que aqueles que foram imunizados possuem anticorpos neutralizantes contra o vírus”, explica a pesquisadora.

 

Em um processo natural, um indivíduo infectado, sobretudo com manifestações sintomáticas, pode produzir anticorpos neutralizantes ou não neutralizantes. Com a pesquisa da professora, será possível produzir, in vitro, somente os anticorpos neutralizantes, que são importantes aliados na redução da carga viral.

 

A segunda parte da pesquisa irá se concentrar na resposta exacerbada do sistema imunológico dos pacientes. Alguns deles podem apresentar um quadro mais grave, como uma espécie de efeito colateral da tentativa do corpo em combater a infecção. Segundo a pesquisadora, “esse processo leva à redução da função pulmonar, conhecida como a explosão de citocinas”.

Professora Anamélia Lorenzetti Bocca, do Departamento de Biologia Celular do IB, está a frente de pesquisa que envolve programas de pós-graduação da UnB com nota 6 pela Capes. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

REDUÇÃO DE PERDAS – A proposta de tratamento elaborada pela professora e sua equipe pretende contornar esses dois pontos importantes da covid-19: carga viral e redução de danos teciduais nos pulmões do paciente, mantendo a sua função pulmonar. Uma vez que danos pulmonares não se recuperam, a redução da perda durante a doença reflete numa melhor qualidade de vida após a recuperação do paciente, reduzindo as chances de possíveis sequelas.

 

Após a comprovação dos dados in vitro, a equipe dará início aos ensaios pré-clínicos. Caso estes se mostrem eficazes, será dado andamento aos ensaios clínicos, que mostrarão a eficácia do tratamento in vivo.

 

Para a professora, a pesquisa poderá se desenrolar em dois sentidos principais: um que aborda o tratamento da covid-19 com anticorpos específicos contra o SARS-CoV2; e outro que, num contexto mais amplo, poderá ser utilizado em todas as doenças que causam inflamações exacerbadas, comprometendo a capacidade funcional do tecido infectado.

 

O projeto engloba áreas afins dentro dos programas da UnB de Patologia Molecular, Biologia Molecular, Medicina Tropical e Biologia Animal, todos ligados à relação hospedeiro-parasita. Segundo a professora, “os pesquisadores de cada um dos programas desenvolveram metas que contribuíram para a conclusão final do projeto, tornando este grupo mais coeso com relação às suas pesquisas”.

 

RELEVÂNCIA – O edital da Capes que selecionou o projeto teve alta concorrência e representa mais um avanço no reconhecimento da UnB como instituição que promove pesquisas de relevância acadêmica e social no âmbito nacional. “A aprovação mostra que a UnB desenvolve projetos de pesquisa bastante relevantes, com uma equipe capacitada. Com relação à pandemia, coloca a UnB no cenário nacional de instituições com condições de contribuir no estudo e tratamento desta doença”, conclui Anamélia Lorenzetti Bocca.

A decana da UnB Adelene Moreira afirma que a pesquisa reflete o grau de excelência dos programas de pós-graduação da universidade: papel fundamental no combate a pandemia. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

O edital contemplará cada projeto com um valor máximo de R$ 100 mil, além de até quatro bolsas de doutorado e seis de pós-doutorado. A professora destaca que o potencial da pesquisa é reforçado pela nota dos programas de pós-graduação em Patologia Molecular e em Biologia Molecular, cursos com nota 6 pela Capes. “Isso mostra a importância da qualidade das pesquisas desenvolvidas, tornando o grupo destes programas competitivos nacionalmente”, confirma a professora.

 

Para a decana de pós-graduação da UnB, Adelene Moreira, a Universidade tem se destacado no enfrentamento à covid-19, não só no Distrito Federal, mas também em ações reconhecidas em todo o Brasil. “Isso reflete o grau de excelência dos programas de pós-graduação da universidade”, afirmou. Segundo ela, a relação da universidade com a sociedade tem se mostrado cada vez mais importante. “Sabe-se que 95% daquilo que é produzido para o avanço do país vem das universidades e isso mostra o quão importantes são as ações dessas instituições para dar respostas às demandas da sociedade, especialmente no que diz respeito ao combate de problemas como a pandemia”, concluiu a decana.

 

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