Primatas e seres humanos possuem uma notável capacidade de detectar serpentes mesmo em ambientes com dificuldade de visão.

Edward Le Poulin/Corbis Images

A pesquisa realizada pelos professores do Instituto de Ciências Biológicas (IB) Rafael Souto Maior e Carlos Tomaz, em conjunto com pesquisadores japoneses e americanos, revelou que um determinado grupo de células nervosas no cérebro dos primatas respondia mais rápido na identificação de serpentes. O artigo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), na última segunda-feira (28). A pesquisa contou com o apoio da Asian CORE Program (Japão).


Por meio de sondas inseridas no cérebro dos macacos foi possível detectar que os neurônios localizados no pulvinar – parte do cérebro envolvida na atenção visual – foram mais rápida e fortemente ativados em resposta a estímulos visuais de serpentes, comparado com outros estímulos. “Nós realizamos testes em primatas justamente por eles terem uma estrutura cerebral bastante similar à do ser humano. Sendo assim, podemos supor que nós também temos essa capacidade de detectar serpentes”, explica o professor Tomaz.


Em várias mitologias, a serpente é vista como um ser insidioso, por ser um predador que não corre atrás, mas fica à espreita e depois ataca. “Nós vemos que há esse histórico marcante da serpente na nossa cultura. Ela agrega esse caráter da maldade escondida”, conta o professor Rafael Maior.


De acordo com o professor Carlos Tomaz, a pesquisa pode ter implicações práticas se analisada por outras perspectivas, como no caso da ofidiofobia, o medo de serpentes. “Sabemos que a ofidiofobia é a mais comum entre humanos. Esse estudo pode vir a ajudar no entendimento dos mecanismos neurais dessas fobias”, afirma.

Os pesquisadores Carlos Tomaz e Rafael Souto Maior.

EVOLUÇÃO – Uma das autoras do artigo, a antropóloga Lynne Isbell, da Universidade da Califórnia Davis, desenvolveu a teoria da evolução que diz que nosso sistema visual, ao longo de 60 milhões de anos, evoluiu pela necessidade de detectar serpentes, predadores que geralmente estão escondidos na vegetação; caso contrário, teríamos sido extintos. O artigo publicado pelos professores vem “apoiar” essa teoria. “É a primeira evidência neurocientífica para esta teoria da evolução. Foi um casamento bem sucedido”, afirma Tomaz.


Confira o artigo publicado pelos professores e a repercussão em veículos internacionais de renome: 


Proceedings of the National Academy of Sciences

Los Angeles Times

TheScientist

NPR

Science AAAS

ABC Science

 

National Geographic