Pesquisa do Instituto de Física demonstra uma equação sobre o metabolismo de diferentes animais que permite apontar, por exemplo, o melhor período para a pesca sem riscos à sobrevivência de espécies de peixes.

Com o uso da inteligência, os seres humanos podem ser mais eficientes na busca de equilíbrio com outros animais. Na prática, é o que prova o trabalho do pesquisador Felipe Luís Pinheiro, do Instituto de Física da Universidade de Brasília, que utiliza equações para compreender com mais precisão as dinâmicas das populações de diferentes espécies.


“Meu modelo permite descrever passo a passo o que determinada comunidade vai consumir por ano. Minimiza o desperdício de nutrientes, de alimentos. Permite o maior aproveitamento possível de recursos dentro da sua comunidade”, afirma o pesquisador. A aplicação dos cálculos pode, por exemplo, prever as melhores condições de reprodução e apontar a época mais adequada para a pesca sem risco de levar peixes a extinção.


O trabalho de Pinheiro, apresentado em dissertação de mestrado, baseia-se na aplicação da Teoria de West, do físico britânico Geoffrey West, que descreve em uma equação a relação entre a massa de uma determinada espécie e sua taxa de metabolismo – a variação metabólica é proporcional à massa elevada a três quartos. Com isso, é possível uma melhor avaliação, por exemplo, da real demanda por alimentos e as etapas do ciclo de vida dos animais. Ou, ainda, ajudar na correta administração de medicamentos.


“Imagine um veterinário acostumado a aplicar medicamentos em cabritos de 50 quilos e que passa a ter que cuidar de elefantes de três toneladas. Se ele aumentar a dosagem proporcionalmente à massa do animal, irá matá-lo”, afirma o professor Fernando Albuquerque de Oliveira, orientador da dissertação, ao explicar a necessidade de se relacionar corretamente massa e metabolismo.


O estudo de Pinheiro partiu da inquietação do pesquisador ao perceber que muitos dos estudos biológicos sobre as populações de animais se restringem a mostrar o comportamento coletivo das espécies. Ele sustenta, no entanto, que o correto entendimento das características de determinado animal exige a análise de seu comportamento individual, baseada não apenas na observação de especialistas. “A gente sempre percebe que os trabalhos de biologia de dinâmicas de população são empíricos. Propomos fazer alguma coisa mais teórica e menos empírica”, afirma.


SALMÃO –
 A dissertação de Pinheiro é permeada por cálculos que poderiam ser aplicados para estudar o comportamento de diversos animais. Para ilustrar o uso de equações, ele escolheu o salmão. A opção pelo peixe foi pela facilidade de entender o ciclo de vida da espécie que se reproduz sempre na mesma época e vive cerca de quatro anos.


Embora não tenha feito estudos experimentais com os peixes, o pesquisador, com base na literatura disponível, apresentou gráficos que revelam a atividade metabólica dos peixes, apontam a necessidade de alimentos para manter o equilíbrio da espécie e simulam o processo para se recuperar a população média em caso de ameaças de declínio do número de indivíduos.


Ainda não há previsão para que os estudos sejam experimentados na prática. Segundo o professor Fernando, contatos informais têm sido realizados com cientistas de outras áreas para apresentar as pesquisas. Os estudos teóricos continuam e o objeto a partir de agora é um peixe bem popular entre os brasileiros: o Surubim.

 

Fórmula defendida por Pinheiro para cálculo do metabolismo animal

B=B0 . m3/4

B – representa o metabolismo médio basal. Significa a quantidade de energia que o animal precisa em repouso.

Bo – Constante de normalização do metabolismo. Cada animal apresenta um número específico.

m – Massa do animal