Quantia em dinheiro recebida por Lauro Vianna, da Faculdade de Educação Física (FEF), será destinada a pesquisa e formação acadêmica

 

Professor Lauro Vianna está na UnB desde 2014 e coordena a pós-graduação em Educação Física. Foto: Amália Gonçalves/Secom UnB

 

“Faço o melhor que sou capaz só pra viver em paz.” Foi assim, parafraseando a canção O vencedor, de Marcelo Camelo, que o professor Lauro Vianna, da Faculdade de Educação Física (FEF) da UnB, se referiu ao trabalho que desempenha na Universidade. Em 2018, sua trajetória foi reconhecida pela Sociedade Americana de Fisiologia (APS), que o condecorou com o Prêmio de Excelência em Fisiologia Integrativa e Medicina.

 

Ao longo de duas décadas, 20 pesquisadores já foram agraciados. Desses, apenas dois não eram de instituições norte-americanas. Vianna é o primeiro sul-americano a receber a distinção. “Essa conquista mostra que estamos no caminho certo e nos traz a responsabilidade de continuar fazendo mais e melhor”, analisa o pesquisador, que se orgulha por ter alcançado o feito a partir de atividades desenvolvidas no Brasil, apesar das dificuldades vivenciadas na ciência nacional.

 

Além de ser o único brasileiro, o docente – que coordena o Programa de Pós-Graduação em Educação Física (PPGEF) e o Laboratório de Fisiologia Integrativa (NeuroVASQ) da UnB – é um dos poucos agraciados que representam a área de Ciências do Exercício e do Esporte. “O prêmio é uma oportunidade de qualificar a minha profissão, valorizando um grupo de pessoas que, há algum tempo, desenvolve pesquisas de muita qualidade”, acredita Vianna.

 

Instituída em 1998, a premiação leva o nome de Arthur Guyton (1919-2003), autor do livro Tratado de Fisiologia Médica – referência nas escolas médicas – e um dos inovadores da área de fisiologia cardiovascular. Além da percepção do prêmio principal, a edição 2018 do evento foi ainda mais especial para Lauro Vianna. Quando cursava o doutorado, ele foi reconhecido pela APS como fisiologista internacional promissor. Neste ano, viu dois pesquisadores do NeuroVASQ entre os premiados na mesma categoria: André Luiz Teixeira e Jeann Luccas Sabino-Carvalho. “É raríssimo que, entre 12 vencedores, dois sejam do mesmo laboratório”, aponta o docente, que já teve outros dois orientandos premiados em edições anteriores.

 

“Acredito que o laboratório de pesquisa é um espaço de formação de jovens pesquisadores. Eu os vejo como meus futuros colegas de profissão. Não ensino, oportunizo um ambiente profícuo de formação e produção acadêmica”, relata. Para apoiar as pesquisas e dar continuidade ao trabalho, o professor Lauro Vianna recebeu da APS a quantia de 30 mil dólares, recurso que está sendo gerido pela Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec). “Vamos investir no laboratório e na formação de recursos humanos”, afirma. 

Lauro Vianna é o 20º pesquisador a receber o Prêmio de Excelência em Fisiologia Integrativa e Medicina, da Sociedade Americana de Fisiologia. Foto: Amália Gonçalves/Secom UnB

 

CARTA ESPECIAL  Para escolher o vencedor do Prêmio de Excelência em Fisiologia Integrativa e Medicina, o comitê da APS avaliou currículos e cartas de recomendação. O pesquisador Jerome Dempsey, da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, escreveu uma das cartas recomendando Lauro Vianna. “Só o texto já foi uma grande alegria para mim. Nela, Dempsey ressaltou que eu certamente seria apoiado pelo professor Guyton para receber o prêmio”, destaca, lembrando os 50 anos de experiência do pesquisador estadunidense na avaliação de jovens talentos.

 

Outra carta foi escrita por Paul Fadel, orientador de Lauro em seu pós-doutorado, na Universidade de Missouri. Fadel foi agraciado pela APS em 2011. “Essa relação entre premiados é inédita. Até então, um orientador e seu ex-aluno nunca haviam recebido o título."

 

NEUROVASQ  A Fisiologia, disciplina básica da formação em ciências médicas e da saúde, estuda o funcionamento do corpo humano. “A partir desse conhecimento, os pesquisadores podem orientar a prática de atividade física e criar terapias, farmacológicas ou alternativas, para tratar doenças”, exemplifica Lauro Vianna. A fisiologia integrativa tem como perspectiva o estudo dos mecanismos de funcionamento do corpo humano de modo integrado.

 

No laboratório coordenado pelo docente, os pesquisadores avaliam como diferentes condições físicas e clínicas afetam a habilidade do corpo de responder a algum tipo de estresse, físico ou mental. “Nosso foco não é apenas biologia molecular, simplesmente isolando uma molécula ou célula, mas como os diferentes níveis de organização do ser humano interagem para formar um todo coerente”, diferencia.

 

Uma descoberta recente feita no NeuroVASQ é a identificação da célula nervosa que está associada à resposta cardiovascular quando o músculo é contraído ou está em contração durante a atividade física. “A conexão entre estresse mecânico no músculo esquelético e o cérebro gera uma atividade em direção ao coração, aumentando a frequência cardíaca”, elucida. O estudo, publicado no American Journal of Physiology - Heart and Circulatory Physiology, concluiu que os neurônios gabaérgicos contribuem no processo de sinalização dessa informação no cérebro.

 

Outra linha de pesquisa mostrou que é possível bloquear os efeitos deletérios da inatividade física com termoterapia. “Sabemos que o sedentarismo provoca disfunção vascular. Para explicar como isso acontece, estudamos um mecanismo que depende de estresse mecânico na parede dos vasos sanguíneos dos membros inferiores”, descreve Vianna.

 

A pesquisa envolveu indivíduos ativos que, por cinco dias consecutivos, tiveram o número de passos diários reduzido, de 10 para 5 mil. “Com isso, foi possível gerar a disfunção de modo transitório em uma das pernas. Na outra, tentamos bloquear esse efeito ruim apenas colocando-a em uma bacia com água quente, o que aumentava o fluxo de sangue”, explica.

 

INTERNACIONALIZAÇÃO  Dois professores colaboradores, três doutorandos e um aluno de iniciação científica integram o NeuroVASQ atualmente. No primeiro semestre de 2018, o laboratório recebeu o doutorando Anthony Incognito, do Departamento de Saúde Humana e Ciências da Nutrição da Universidade de Guelph, no Canadá. Ele estuda as potenciais diferenças nas respostas do sistema nervoso a alterações na pressão arterial em indivíduos hipertensos e saudáveis. 

O canadense Anthony Incognito realizou parte de sua pesquisa na UnB, entre março e julho de 2018. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

O interesse no intercâmbio, financiado por um programa internacional do Conselho de Pesquisa em Ciências Naturais e Engenharia do Canadá, partiu do próprio Anthony, que conheceu o professor Lauro Vianna em um congresso em San Diego, na Califórnia, em 2015. 

 

“Esta foi a minha primeira experiência com pesquisa fora do meu país. A vivência na Universidade de Brasília foi inestimável e me inspirou a buscar mais colaborações de pesquisa no futuro”, garante o canadense.

 

Para o professor Lauro, o intercâmbio possibilitou uma interação cultural, social e acadêmica. “A vinda de uma pessoa de outro país, de outra língua e cultura mexeu positivamente não só com os membros do laboratório, mas também com funcionários e outros alunos da FEF”, diz o pesquisador, ressaltando a importância de oportunidades como essa para o fortalecimento da internacionalização na Universidade.

 

 

 

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