Antes da última conferência internacional sediada no Rio de Janeiro, o tempo reservado para a manifestação de ideias era restrito às autoridades convidadas. Mas, no ano passado, foram concedidos seis minutos para que a sociedade civil pudesse dizer o que julgava ser essencial para constar no documento final do encontro. Foram escolhidos, então, representantes de nove grupos da sociedade (fazendeiros; crianças e jovens; mulheres, lideranças locais, populações tradicionais; ciência e tecnologia, indústria e comércio; sindicatos e ONGs).No dia 22 de junho, completou-se um ano do término da conferência Rio+20. Os presentes saíram da discussão sobre meio ambiente e sustentabilidade com opiniões conflitantes, como é de costume em eventos de grande porte. Enquanto alguns se diziam insatisfeitos, outros demonstravam otimismo frente ao futuro do planeta. Mas uma coisa foi, de fato, inédita na Rio +20: a participação da sociedade civil na Plenária de Alto Nível.
A professora de Gestão Ambiental Carolina Lopes Araújo vê na participação dos civis um marco na história das conferências ambientais. “Ano passado, um passo irreversível foi dado”, disse Carolina. Apesar da satisfação com a inclusão do público nas discussões, a professora questiona o peso que os pronunciamentos tiveram no documento final da Rio +20.
Batizado oficialmente de “O futuro que queremos”, o documento conclusivo da conferência tem 53 páginas e leva a assinatura dos 188 países participantes. Ele contém as diretrizes para uma nova postura em relação ao meio ambiente, fruto do diálogo multicultural. Na próxima conferência, ainda sem data prevista, o documento conclusivo da Rio +20 servirá de base para a renovação de propostas e estabelecimento de novas diretrizes.
ANÁLISE DO DISCURSO - Em sua tese de doutorado, em andamento, Carolina apresenta uma proposta ousada: por meio de estudos em Linguística, ela decidiu comparar as reivindicações da sociedade civil apresentadas na conferência com as conclusões sintetizadas no documento final e analisar o grau de pragmatismo desse documento. “É um processo trabalhoso, uma construção. Basicamente, eu vou ‘pinçar’ todos os verbos do documento, analisá-los segundo os critérios de Halliday e comparar a incidência de processos de cada categoria e a maneira como estão inseridos no texto”, explica Carolina. Para realizar o trabalho, ela priorizou dois métodos analíticos complementares: a Análise Crítica do Discurso e a Linguística Sistêmica Funcional.
Conhecida pelas iniciais (ACD), a Análise Crítica do Discurso é uma técnica desenvolvida no final dos anos 80 por Norman Fairclough, emérito de Linguística na Universidade de Lancaster. A ideia que cerca a teoria é a de que uma análise aprofundada não se restringe a aspectos da linguística e gramática. O meio em que o discurso foi produzido e tudo que ele revela sobre a população analisada (ou seja, o contexto) é indissociável da interpretação crítica da mensagem. No estudo do discurso do documento “O futuro que queremos”, Carolina se baseia nos trabalhos de Norman Fairclough, referência principal da Análise de Discurso Crítica e de Micheal Halliday, criador da Linguística Sistêmica Funcional.
A doutoranda se formou em Administração pela UFMG e, até pouco tempo atrás, o universo da Linguística lhe era estranho. Mas isso mudou no contato com as professoras Viviane Ramalho e Viviane de Melo Resende (autoras do livro “Análise de Discurso (para a) Crítica: o texto como material de pesquisa”), que apresentaram Carolina à obra de Fairclough e à Linguística Sistêmica Funcional de Halliday. “Elas me ajudaram muito, praticamente me conduziram pela mão. Agora, passo horas debruçada sobre livros de Linguística e acabo me divertindo”, confessa Carolina. A defesa da tese está prevista para abril de 2014. Carolina tem como orientador o professor Cristovam Buarque e como co-orientador o professor Elimar Pinheiro do Nascimento.