O que você pensa quando ouve falar em inovação? Se a pergunta for feita a várias pessoas, provavelmente as respostas serão tão diversas quanto as próprias diferenças culturais entre elas. O mesmo acontece com empresas, organizações e centros de pesquisa que trabalham com o tema e tentam definir conceitos que possam fundamentar teoricamente projetos inovadores. Para facilitar a comunicação entre as instituições, o pesquisador Carlson Batista de Oliveira desenvolveu em estudo uma ontologia da inovação, conjunto de conceitos que funciona como um dicionário temático. O estudo foi produzido a partir de levantamento bibliográfico de 298 referências sobre o assunto nas áreas de ciência da computação, administração, economia e sociologia.
Ao esmiuçar essas fontes, Carlson verificou divergências de conceitos como: “inovação é um processo pelo qual o conhecimento é absorvido, assimilado, compartilhado e utilizado com o objetivo de criar novo conhecimento” e “inovação são novas tecnologias ou combinações de tecnologias introduzidas comercialmente para atender demandas de usuários ou de mercado”. No estudo, o pesquisador definiu um terceiro entendimento: “inovação consiste na introdução de um novo artefato ou modificação de um artefato existente em um determinado contexto social conferindo-lhe ganho substancial”.
Além desse, foram criados outros 102 conceitos, 43 relações entre conceitos e 157 axiomas, regras simples como: “O processo de inovação requer oportunidade”. Carlson explica que a ontologia é importante porque cria uma linguagem comum para diversos campos do conhecimento que tratam do mesmo tema. “Ela pode ser útil para facilitar o intercâmbio de resultados de pesquisa entre áreas distintas”, exemplifica o pesquisador, que atua como especialista em tecnologia da informação no Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), um dos importantes centros de pesquisa do país.
APRENDIZADO - A ideia de aprendizado é outro conceito relacionado na ontologia. “Aprendizado é o ato interpretativo cujo objetivo é melhorar o estar situado”. Explica-se. “Estar situado” é, na verdade, outro conceito da ontologia e pode ser definido como “o quanto já se conhece daquilo com que se está trabalhando de forma a viabilizar a criação do novo”. Por aí se entende como funcionam as relações entre os conceitos – que muitas vezes dependem um dos outros para serem explicados.
Outro conceito é o de atividade-de-inovação. “A gente categoriza essas atividades como ações que tem o objetivo de contribuir para o alcance de um processo de inovação”, descreve. Carlson explica que a implementação prática da ontologia requer a construção de sistemas de informação que possam ser consultados facilmente e servir de referência para todas as instituições que trabalham com o tema. “Isso pode acontecer tanto por meio de uma publicação como por sites especializados”.
A ontologia integrou a tese de doutoramento de Carlson "Uma proposta de Arquitetura da Informação para o processo de inovação em centros de pesquisa", orientada pelo professor Mamede Lima-Marques, da Faculdade de Ciência da Informação, e defendida em março deste ano.
Mamede conta que a abordagem adotada por Carlson é inovadora. Segundo o professor, é um dos poucos estudos que abordam os aspectos teóricos da inovação. “A maioria foca mais no lado prático do tema”, explica. “Mas mesmo a parte prática não se consolida sem teorias adequadas”.