Os alunos foram convidados a integrar a equipe de relatoria como facilitadores, apoiando o trabalho da Comissão Nacional de Relatoria responsável pela consolidação das propostas aprovadas na 5ª CNSI. Uma iniciativa inédita, pois é a primeira vez que uma conferência de saúde abre espaço para participação de estudantes como apoiadores. Segundo a professora Luciana Benevides, integrante da comissão, a presença dos estudantes indígenas funciona como um espaço de ensino-aprendizagem “pois amplia a compreensão de como se dá o processo político de realização de uma conferência de saúde”.
"É a primeira vez que venho a uma Conferência de Saúde Indígena. Está sendo muito importante participar, ouvir as discussões e matar as saudades de nossos parentes que vieram das aldeias”, explica a estudante de enfermagem Rayanne Cristine Máximo França, da etnia Baré, vinda na Região do Alto Rio Negro no Amazonas. Ela estava acompanhada da aluna de Engenharia Ambiental, Suliete Gervásio, também da etnia Baré, mas da aldeia Santa Izabel no Médio Rio Negro (AM). “Encontrar os parentes da minha aldeia foi muito bom, mandar e receber noticias de como estão todos”, conta. Ambas destacaram a possibilidade de ampliar o olhar sobre a política indigenista e a troca de saberes com as outras etnias, como as experiências mais enriquecedoras dessa participação.
Apesar de novatas na CNSI, o processo de participação no movimento indígena não é novidade para as estudantes. Elas integram a diretoria da Associação dos Acadêmicos Indígenas da UnB (AAIUnB), responsável por fazer o acolhimento dos estudantes indígenas que chegam à universidade. “O processo de adaptação tanto na UnB quanto em Brasília é bem difícil, pois além de tudo ser muito diferente da nossa realidade na aldeia, a grande maioria chega aqui sozinha. A associação acaba sendo a referência para eles”. Rayanne e Suliete deixaram suas famílias no Amazonas e chegaram sozinhas em Brasília.
ATUAÇÃO PROFISSIONAL – No 5º semestre de enfermagem, Rayanne faz estágio no Ambulatório de Saúde Indígena do Hospital Universitário de Brasília (HUB). O serviço oferece atendimento especializado aos indígenas referenciados pela Casa de Saúde Indígena (Casai) de Brasília, bem como aos estudantes indígenas da UnB que necessitem de assistência médica.
“Estou gostando muito do trabalho no ambulatório, pois lá tenho a vivência de como é promover um atendimento no contexto multiprofissional e intercultural, similar a como seria um atendimento na aldeia”. Ela explica que além de ajudar os pacientes indígenas, que se sentem mais seguros quando sabem que ela também é índia, o trabalho no ambulatório ajuda os outros profissionais não indígenas a compreender as especificidades desse atendimento. “Essa é um experiência muito construtiva para mim, pois posso ter contato com realidades distintas de outras etnias que passam pelo atendimento no ambulatório”, ressalta.
O interesse pela saúde indígena surgiu muito cedo, já que Rayanne é filha de um ex-Agente Indígena de Saúde (AIS) e liderança muito atuante no movimento indígena, Valdenir França, conhecido como “Cacareco”. “Sempre vi meu pai envolvido com as questões da saúde indígena, ele sempre me levou às reuniões e encontros desde pequena e foi isso que me despertou o interesse por trabalhar pela saúde do meu povo”.
Já Suliete relaciona o seu aprendizado na área de gestão ambiental com o tema da saúde. “Os conflitos relacionados à demarcação das reservas indígenas é um assunto que está em pauta. E isso tem toda a relação com a saúde, pois a terra é tudo para nós, sem ela não temos saúde”, ressalta.