Atenção primária consiste nos cuidados iniciais, em postos de saúde, de problemas comuns como febre e alergias. Segundo o estudo, que analisa o período entre 2001 e 2011, os problemas enfrentados pelo país no campo da saúde ocorrem, principalmente, devido ao subfinanciamento da área pelo governo, às dificuldades historicamente herdadas e ao próprio modelo organizacional do sistema brasileiro.
Para Maria Matos, o subfinanciamento agrava a ineficiência da atenção primária no Brasil. Em 2000, foi aprovada a Emenda Constitucional nº 29, que vincula a despesa governamental com saúde ao crescimento do PIB. Na prática, a medida garante que o orçamento na área não aumente. Os gastos com a dívida pública chegaram a 61% em 2003, enquanto os gastos com a saúde não passaram de 4,05%, segundo dados apresentados na tese.
A pesquisa conta que, na década de 1990, o modelo político vigente foi responsável pela implantação de medidas neoliberais, o que resultou na terceirização dos serviços hospitalares. Desde então, o setor público de saúde estagnou, enquanto o privado cresceu sem controle, principalmente no que se refere aos planos de saúde. “A doença dá lucro”, afirma Maria Matos, para quem as políticas de saúde brasileiras são voltadas às "necessidades do sistema capitalista".
De acordo com a pesquisadora, o modelo organizacional ideal deve se basear na atenção primária nos postos de saúde, para que os hospitais especializados se voltem apenas aos casos de emergência e intervenções cirúrgicas. Essa organização propõe atendimento rápido e eficiente. Assim como o norte-americano, o modelo brasileiro está centralizado nos hospitais, que só têm condições de atender a 20% da demanda.
Outro problema apontado pela pesquisadora está nas práticas médicas. De acordo com Matos, as informações transmitidas pelos profissionais são "elitizadas" e a formação dos médicos é voltada à especialização. Além disso, a maior parte dos profissionais prefere trabalhar em consultórios, em geral, mais lucrativos.