Ingrediente tradicional da culinária do Centro-Oeste, amado por alguns paladares, odiado por outros, o pequi tem propriedades que podem fazer dele muito mais que um simples tempero. Pesquisa realizada pelo Laboratório de Genética do Instituto de Ciências Biológicas (IB) da Universidade de Brasília (UnB) concluiu que esse fruto típico do Cerrado pode ser indicado como eficiente redutor da ação dos chamados radicais livres (moléculas que se formam no organismo humano e reagem de forma danosa às células sadia) e está qualificado como coadjuvante no tratamento do câncer. Coordenado pelo professor César Koppe Grisólia, o estudo deu origem à dissertação de mestrado Avaliação do potencial mutagênico, antimutagênico e antioxidante do extrato aquoso de polpa de pequi, defendida em junho de 2004 pela aluna do IB Juliana Khouri.
Por trás do título, carregado de palavras estranhas ao caboclo familiarizado com o sabor da fruta, está a boa notícia: “O pequi é capaz de proteger as células dos efeitos colaterais das drogas usadas no tratamento de câncer, que costumam ser muito violentos”, afirma o professor Grisólia. Rico em vitaminas A, C e E e betacarotenóides (componentes com propriedades antioxidantes, que têm a capacidade de proteger o organismo da ação danosa dos radicais livres), o extrato de polpa de pequi foi aplicado em células de ovário de hamster chinês que estavam submetidas também a uma combinação de substâncias como ciclofosfamida e bleomicina (drogas usadas no tratamento de pacientes com câncer).
Os testes estatísticos revelaram que o pequi exerceu efeito protetor contra os danos causados às células por essa combinação. E que, além de amenizar a ação degenerativa das drogas, o extrato da fruta não afeta o índice proliferativo das células sadias. A pesquisa do professor César Grisólia não chega a mensurar essa ação protetora. “Mas já é considerável comprovarmos que o pequi tem essa propriedade. Medir o quanto ele protege as células, aí já é outra pesquisa”, esclarece.
CERRADO – Para o professor César Grisólia, o resultado da pesquisa chama a atenção para a necessidade de preservação do Cerrado. “A madeira do pequizeiro tem sido usada para fazer carvão e nossa pesquisa mostra que essa planta tem mais valor em pé do que dentro de um saco de carvão. O cerrado tem sido destruído pela agricultura, mas assim como o pequizeiro deve haver muitas outras espécies que ainda não foram devidamente estudadas”, afirma.
Na verdade, a pesquisa sobre o pequi, que vem sendo desenvolvida desde 2001 por Grisólia, é parte de um projeto maior desenvolvido pelo professor. Ele pretende pesquisar o potencial das plantas do Cerrado em parceria com a Universidade Federal de Uberlândia (MG) e com o Laboratório de Biofísica da UnB. Para Grisólia, é preciso conscientizar o homem do campo sobre o valor da planta e chamar atenção para suas utilidades. “Não basta proibir ou dizer que não pode cortar”.