Trabalho é realizado em parceria com rede de coletores da Chapada dos Veadeiros. Informações sobre mais de 300 espécies já foram levantadas

Da UnB Agência

 

A equipe do Laboratório de Termobiologia do Departamento de Botânica da UnB tem realizado análises e pesquisas com sementes nativas do Cerrado coletadas pela Associação Cerrado de Pé na Chapada dos Veadeiros. O objetivo é orientar a seleção das melhores espécies a serem usadas na restauração do bioma.

Desde 2017, mais de 60 toneladas de sementes foram produzidas e comercializadas pela Associação e pela Rede de Sementes do Cerrado com a ajuda dos pesquisadores da UnB, que já levantaram informações sobre mais de 300 espécies de sementes nativas.

Em parceria com a comunidade de coletores, os pesquisadores têm estudado, por exemplo, os efeitos do fogo, da seca e das variações de temperatura no crescimento das mudas. Os estudos também investigam os efeitos do clima, em particular das mudanças climáticas, na capacidade de adaptação das espécies vegetais.

“Temos que pensar que as espécies que estão sendo utilizadas para restauração agora precisam se estabelecer daqui cem anos no novo clima. Fazer a restauração nesse contexto significa buscar espécies que sejam mais adaptadas a um clima em mudança”, aponta o professor do Departamento de Botânica e coordenador do Laboratório de Termobiologia, Fabian Borghetti.

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QUALIDADE E VIABILIDADE – Outro estudo realizado na unidade busca saber o tempo em que as sementes de diferentes espécies podem ficar armazenadas sem comprometer a sua qualidade e a capacidade de germinação. Esse tipo de estudo rendeu à estudante de Biologia Luana Andrade indicação ao prêmio destaque do Congresso de Iniciação Científica da UnB e do DF em 2023.

Coletores visitam o Laboratório de Termobiologia na UnB, onde são analisadas sementes nativas do Cerrado obtidas junto à Associação Cerrado de Pé. Foto: Divulgação


Sob orientação do professor Fabian e da técnica do Laboratório de Termobiologia e vice-presidente da Rede de Sementes do Cerrado, Anabele Gomes, Luana avaliou o efeito do tempo de armazenamento em quatro espécies arbóreas do Cerrado coletadas de 2020 a 2022: Jatobá da Mata, Tamboril da Mata, Mutamba e Maria Preta. Com pesquisa similar, porém sobre espécies arbustivas, a estudante Camila Calixto recebeu menção honrosa na mesma edição do Congresso de Iniciação Científica.

Testes rápidos de viabilidade com lotes de sementes também são realizados pelo laboratório. “A gente começou a perguntar aos coletores e a quem está restaurando quais espécies estavam tendo problema e a olhar para esses problemas”, conta Anabele, que ressalta o impacto positivo da restauração ecológica na vida das pessoas. “Tudo isso encanta e tem atraído cada vez mais estudantes”, diz.

Dezoito estagiárias colaboram atualmente no Laboratório de Termobiologia em estudos relacionados à cadeia produtiva de sementes nativas. Em saídas de campo, as estudantes têm a oportunidade de conhecer o processo de restauração do Cerrado, desde a coleta e o beneficiamento das sementes até o armazenamento, a comercialização e o plantio nas áreas a serem recuperadas.

“Estamos olhando muito para a semente que é coletada por pessoas que vivem em comunidades tradicionais, assentados e pequenos agricultores”, diz Anabele. “Quando a gente vai a campo, digo muito aos estudantes para escutarem os coletores, porque eles vão aprender muito mais com quem vive da semente e está ali convivendo com as plantas o dia inteiro.”

SEMEANDO EM REDE – A Associação Cerrado de Pé é um grupo de coletores de sementes que trabalha em parceria com a Rede de Sementes do Cerrado. A Rede foi criada há mais de 20 anos no Departamento de Engenharia Florestal da UnB, a partir de um edital do Fundo Nacional do Meio Ambiente. “Já naquela época, olhava-se para a falta de diversidade de espécies e técnicas para restauração”, conta Anabele. “O Cerrado tem mais de 12 mil espécies de plantas e poucas são usadas para restauração ainda hoje”, observa.

Ela cita desafios, como a necessidade de maior investimento e agilidade no processo de restauração. “É muita área para restaurar em pouco tempo e a pesquisa precisa andar junto e ser aplicada, trazendo respostas rápidas”, avalia. Os pesquisadores lembram que a meta assumida pelo Brasil é a de restaurar 12,5 milhões de hectares no país até 2030. Grande parte dessa área está na região Centro-Oeste, no bioma Cerrado.

Além das comunidades tradicionais envolvidas na coleta e produção de sementes, técnicos e pesquisadores de outras universidades e órgãos, como Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), também trabalham em parceria com a Rede.

 

 

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