As psiquiatras Maria Célia Vítor de Souza Brangioni e Deborah Thomaz Duarte de Azevedo, do Hospital Universitário de Brasília (HUB), conquistaram a primeira colocação na categoria pôster da quinta edição do Congresso Internacional da Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (ABRAMD), realizado em dezembro na capital federal.
A elaboração do estudo, que tem como tema principal o uso da ibogaína no tratamento de pessoas com dependência química, durou quatro meses. No Brasil, as pesquisas são recentes e realizadas por poucos cientistas. Em outros países, existem estudos da aplicação da substância em animais desde 1940.
As pesquisadoras revisaram e analisaram a bibliografia existente sobre a ibogaína e a possibilidade de sua utilização para fins terapêuticos nos diversos tipos de dependências químicas, entre as quais as de tabaco, álcool, cocaína, morfina e heroína. As cientistas sinalizam, ainda, que há relatos de melhora de sintomas depressivos.
ORIGEM E PROPRIEDADES – A ibogaína é uma substância alcaloide, extraída da casca da raiz da iboga – planta originária de países do oeste africano. Nesse continente, é muito utilizada no combate à fadiga muscular e em alguns rituais religiosos.
Segundo a psiquiatra Maria Célia, professora da UnB e orientadora do estudo, a pesquisa pode vir a ser utilizada em políticas públicas de saúde. Ela observa que o uso da ibogaína, caso comprovada a sua eficácia terapêutica, pode acarretar grandes avanços nos diversos tratamentos psiquiátricos. "Os estudos mostram que a ibogaína age em circuitos neuronais específicos, reduzindo os sintomas de abstinência e o comportamento compulsivo", explica.
Além disso, a psiquiatra Deborah Azevedo considera que a premiação da pesquisa é um estímulo para dar continuidade aos seus estudos sobre a eficácia da ibogaína em tratamentos e a possibilidade de produção, no Brasil, de medicamentos à base do princípio ativo da substância. A pesquisadora premiada é residente do HUB e tem cinco anos de formada.
"Para mim, a premiação foi surpreendente e mostra o reconhecimento do nosso trabalho de pesquisa", comemora. Ela ressalta que a ibogaína, como medicamento industrializado, é um produto importado (principalmente do Canadá e da Austrália), o que encarece a sua utilização.