O estudo do tema está entre os que mais crescem nos cursos de pós-graduação.

A realização de pesquisas no curso de pós-graduação da UnB em Filosofia da Religião, em 2004, trouxe de volta um tema que havia sido deixado de fora dos currículos universitários desde o início do século passado.“Discutir religião era considerado coisa de seminários, não de universidade laica”, explica o professor Agnaldo Portugal, do Departamento de Filosofia (FIL).


Seis anos depois da decisão pioneira da UnB, o crescimento do interesse pelo assunto pode ser medido pelo quórum do IV Congresso Brasileiro de Filosofia da Religião, que começou nesta terça-feira 15. “A procura para as inscrições foram 20% maior do que na edição anterior, em 2009”, comemora Agnaldo, organizador do evento.


Mesmo com pouco tempo de estrada, o curso foi destaque no último encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia, em 2010. “Fomos o grupo de trabalho que recebeu mais inscrições – no encontro anterior ficamos em quarto lugar”, destaca Agnaldo. O professor acredita que o interesse crescente pela área decorre de uma mudança no cenário mundial. “A religião está retomando um papel histórico, que parecia ter se perdido até a década de 60 do século passado”, explica. “No início do século XX, não havia espaço para discutir religião – os grandes temas eram a política e a ética.”.


A abordagem da filosofia da religião privilegia a razão à revelação e está desvinculada da prática de uma doutrina em particular. “Ao contrário da teologia, em que a religião é estudada de dentro por um praticante daquela crença, o filósofo busca um olhar distanciado sobre o seu objeto”, explica o professor Márcio Gimenes, também do FIL.


BERGSON –
 A discussão sobre filósofos importantes que refletiram a respeito da religião está presente nos debates do congresso. Um dos pensadores examinados foi o francês Henri Bergson, que tentou entender a origem do sentimento religioso no ser humano na primeira metade do século XX. Segundo o professor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte, Álvaro Mendonça Pimentel, especialista na obra de Bergson, o filósofo acreditava que a religião é uma forma que a natureza encontrou para driblar o individualismo que nasce com a inteligência.


“Bergson levava em consideração que o ser humano é um ser social, assim como formigas e abelhas”, destacou o professor. “A diferença é que eles se organizam pelo instinto, e nós pela inteligência”. Bergson notou, contudo, que a mesma inteligência levava o indivíduo a questionar por que deve se sacrificar tanto por essa sociedade. A religião seria justamente uma resposta a essa pergunta. “Bergson identificou no ser humano uma imaginação fabuladora que cria a narrativa religiosa”. Essa capacidade traria ainda respostas para outras duas questões: a inevitabilidade da morte e a imprevisibilidade dos resultados das ações. “As fábulas criadas no âmbito religioso devolveriam a força de viver ao ser humano”.


O congresso reúne pesquisadores brasileiros e internacionais em palestras e mesas redondas até esta sexta-feira 18.


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