Os cientistas perceberam semelhanças entre algumas espécies de briófitas encontradas apenas no Ártico e no Antártico e acreditam que pode se tratar do mesmo material. Para solucionar a questão, os pesquisadores vão até o Polo Sul, coletar e analisar o DNA dessas pequenas espécies.
Se o material corresponder, os cientistas vão cair em uma nova questão. “Como só existem essas espécies no Ártico e no Antártico, se esses continentes nunca estiveram colados nas placas continentais?”, questiona Paulo Câmara. O professor apresenta duas hipóteses: ou existe um corredor de vento que leva o material de um continente para outro, ou eles chegam através de montanhas rochosas.
Caso a primeira hipótese esteja correta, os pesquisadores devem descobrir um novo padrão de circulação de ar. Essa descoberta traria uma contribuição importante para os estudos sobre distribuição de clima no planeta. Já se confirmada a segunda suposição, os pesquisadores terão concluído a necessidade de preservação de toda a cadeia de montanhas rochosas que aproxima os dois continentes brancos. “Desmatar o caminho do meio significaria impedir a migração destas plantas e isso afetaria todo o ecossistema da Antártica”, defende Câmara.
Os cientistas não descartam a possibilidade de os musgos e liquens encontrados no Polo Sul não serem os mesmos presentes no Polo Norte. Mesmo que isso seja verificado, os estudiosos não terão perdido a viagem. “Temos duas hipóteses voltadas para a conservação, mas também existe o interesse de entender processos evolutivos. Se não forem as mesmas plantas, nós vamos querer saber como o ambiente frio molda a forma da planta”, diz o professor.
O projeto é financiado pelo CNPq através do Programa Antártico Brasileiro (Proantar). O trabalho é resultado de parceria entre a UnB, a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), o Jardim Botânico do Rio de Janeiro e as instituições estrangeiras: Charles Darwin Research Station (Equador), Universidad Viña del Mar e Univerisdad de Magalhães (Chile), Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Argentina), Naturalis Biodiversity Center e Universiteit de Leuven (Holanda), Child Museum of Natural History (Estados Unidos).
PALESTRA - Os pesquisadores já estão se preparando para a expedição à terra dos pinguins, marcada para acontecer em dezembro deste ano. Uma das atividades prévias à viagem será a palestra Antártica: da ciência à convivência, a pesquisa de liquens no continente branco. A atividade acontece nesta sexta-feira (24), às 16h, no Auditório 3 do Instituto de Ciências Biológicas. O professor da UFMS Adriano Afonso Spilmann, que já esteve diversas vezes no continente, será o palestrante. “O evento é para quem quiser conhecer um pouco sobre a Antártica e saber sobre o trabalho dos brasileiros lá”, convida Câmara.