Unindo sabedoria popular e conhecimento científico, uma pesquisadora do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB (CDS) ajudou cinco comunidades do município de São João da Aliança a construir um apiário. Essa experiência de trabalho comunitário e sustentabilidade ambiental serviu de base para a dissertação de mestrado de Ana Carolina Cançado.
Em 2008, Ana presidia a Camará, ONG formada por alunos da UnB que já tinha projetos na cidade. Uma moradora da comunidade de Jatobazinho foi a ela reclamar da dificuldade de conseguir mel nos comércios locais. "Não tínhamos garantia se o mel era puro ou se era só açúcar", conta Simone Barbosa, moradora do assentamento Santo Antônio das Brancas.
Ana então chamou 9 voluntários de dois assentamentos de reforma agrária e de três comunidades tradicionais da região. O apiário foi construído em Jatobazinho, mas é usado pelos moradores das outras comunidades num sistema de parceria.
PROCESSO - A primeira etapa foi escolher as melhores plantas para atrair as abelhas. Aí já começava o intercâmbio entre conhecimento científico e tradicional. Os moradores contribuíram com seus conhecimentos sobre a vegetação local. Depois Ana reuniu todo o levantamento das espécie e trouxe informações tiradas dos livros. Entre as plantas escolhidas estavam o assa-peixe, amor-agarradinho, pau-de-olhinhos e carvoeiro.
Depois, Ana conseguiu um microcrédito de 2.500 reais, do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), que financia projetos sociais e ambientais. “Com ele conseguimos comprar as caixas para a colheita do mel e o material para confecção dos macacões de proteção”, explica Ana. “A possibilidade de trabalhar com o microcrédito também foi um processo educativo”.
A consciência ambiental acompanhou o passo seguinte da construção do apiário: a capturar as colmeias para colocá-las nas caixas, conhecidas como melgueiras. “Não derrubávamos árvores para pegar as colmeias”, conta Ana. O mel é retirado em um ambiente fechado, que foi batizado de Casa do Mel.
UNIÃO - Para Lourivaldo Landim, do assentamento Santo Antônio das Brancas, um dos pontos fortes do grupo é a união. “Todos estão juntos até hoje e quase não temos divergências”, afirma. Atualmente Landim trabalha semanalmente no apiário, onde contribui com a colheita do mel e com a manutenção do material.
O apiário conta com 8 colmeias. Cada uma produz cerca 7 a 9 litros de mel por mês. "Esse período pode variar de acordo com o clima", explica Landim. 40% da produção é vendida no próprio município e em Brasília. A quantia arrecadada é aplicada na manutenção do projeto. O resto do mel é dividido entre os participantes.
A pesquisadora trabalhou com o grupo durante 20 encontros quinzenais entre os meses de janeiro e setembro de 2008. O método utilizado foi o da pesquisa-ação, em que o pesquisador faz parte do grupo pesquisado. “Para mim essa é a melhor forma de construir o conhecimento, pois tanto a comunidade como o pesquisador são beneficiados”, explica a orientadora da pesquisa, Leila Chalub. “Eu só acredito no conhecimento que seja capaz de transformações reais, ainda que pequenas”.