Os dois moram na Região Norte. Um é do Pará e o outro do Amazonas. Além de serem novos – um tem 24 e o outro 20 –, conquistaram o primeiro lugar na seleção da pós-graduação do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB. Um vai cursar doutorado e o outro, mestrado. Luiz Cláudio Melo Junior e Paulo Renan França deixarão para trás as cidades onde nasceram e foram criados para se dedicarem à pesquisa na Universidade de Brasília. Mas a vida acadêmica remontará às origens. Os estudos de campo serão feitos nos estados de onde cada um veio.
Paulo Renan ingressou na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) aos 16 anos. Formou-se em Turismo aos 20, no primeiro semestre do ano passado. Escolheu a percepção dos idosos sobre o turismo na cidade de Presidente Figueiredo, frequentada por amantes de cachoeiras, cavernas e atividades ao ar livre, como tema da monografia de graduação. No mestrado, vai estudar os impactos sociais causados pelo festival folclórico de Parintins e as políticas públicas de inclusão por meio do turismo. A preocupação com a sustentabilidade acompanhou Paulo durante a faculdade. “Não há mais caminho de volta. O planeta precisa de soluções sustentáveis. Precisa se dar conta da crise ambiental que nós vivemos”, explica. “Todo estudo e toda pesquisa que trilhe esse caminho é importante tanto para a cidade, quanto para o estado, o país e o mundo”.
Paulo acredita que muitas pessoas falam de sustentabilidade sem saber o que é, de fato, uma sociedade sustentável. “Aqui no Amazonas o discurso político trata de sustentabilidade, mas o que é? Quero entender bem do assunto para mostrar o que é realmente sustentável e o que é uma falácia”, diz. “Escolhi esse tema porque vivemos uma crise mundial sem precedentes. Todo o mundo está sofrendo com isso, tanto na área ambiental, quanto econômica, social e cultural”. O estudante pretende, com a carreira acadêmica, buscar mais equidade social e melhoria na qualidade de vida das pessoas. “O turismo sustentável está inserido neste contexto”, afirma. “O turismo tem que ser sustentável, tem que levar em conta as especificidades de cada comunidade, de cada região”.
DOUTORADO – Luiz Cláudio coleciona números prodigiosos: fez duas graduações ao mesmo tempo – cursou Agronomia na Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e Ciências Sociais com ênfase em Sociologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) – e defendeu a dissertação de mestrado em Planejamento de Desenvolvimento do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, também pela UFPA, na semana passada, em 4 de janeiro. Agora, com 24 anos, começará o doutorado no CDS. “Vou trabalhar com populações tradicionais dos Rios Mamuru e Arapiuns, já que desde a graduação em Agronomia trabalhei em um grupo de pesquisa que lidava com essas comunidades”, explica.
Ele participou da elaboração de relatório sobre a concessão florestal do local, que mapeou a área, quem vive lá, qual a relação das pessoas com os recursos naturais e qual a distância de alcance das atividades das comunidades tradicionais. As concessões para manejo florestal ocorreram em 2010, quando o governo cedeu parte da área de 1,3 milhão de hectares para manejo da iniciativa privada. “O governo estava com a preocupação de que o processo não afetasse as comunidades tradicionais”, explica. “Quando for fazer o trabalho de campo no doutorado, já vai ter três anos desde o processo de concessão florestal. Vou poder avaliar o impacto e ver qual a percepção das comunidades sobre o processo”.
“Saio para um processo em que tenho que traduzir os ganhos intelectuais para a região onde nasci e vivo, que é a Amazônia”, diz Luis Cláudio. “Escolhi o CDS por ser um programa de pós-graduação à frente nas discussões interdisciplinares. Quero aprender como os grupos de pesquisa fazem a leitura da Amazônia a partir da teoria da complexidade”.
A pouca idade dos dois pesquisadores ainda está abaixo da média nacional, mas é um fenômeno que vem se multiplicando no país. Dados do Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) 2011-202, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) revelam que a idade média atual dos homens com mestrado ou doutorado ainda é alta – 46 anos – e que a excelência acadêmica depende de renovação e longevidade. A decana interina de Pesquisa e Pós-graduação da UnB, Georgete Medleg Rodrigues, vê a redução de idade como uma tendência. “Isso é algo que esta começando a acontecer. Eles entram cada vez mais jovens na universidade. Se o jovem escolher a carreira acadêmica, começa cada vez mais cedo na pós-graduação”.