Cerca de 83 milhões de brasileiros não têm acesso ao saneamento básico, fator que os expõe a uma série de doenças parasitárias. Esse grupo poderá ser um dos grandes beneficiados por uma pesquisa da Universidade de Brasília, que encontrou em uma planta bem conhecida, a hortelã, uma fonte para combater essas doenças.
De acordo com o professor Jean Kleber Mattos, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da UnB, a atividade medicinal da hortelã já era conhecida popularmente, mas o mérito da pesquisa foi analisar espécies nunca antes avaliadas, e descobrir nelas uma alta porcentagem de óxido de piperitenona, elemento que mata amebas e giárdias, parasitas intestinais.
O estudo analisou seis espécies da hortelã comercializadas em feiras e supermercados de Brasília. Encontrou em três delas grandes quantidades do componente. Uma apresentou 75,39% do óxido de piperitenona; outra teve 73,77% e a terceira, 55,15%. “A primeira é uma ‘bomba’. Setenta e cinco por cento é algo considerável”, diz Mattos. As três espécies restantes, porém, apontaram quase nada da substância.
REDUÇÃO DE CUSTOS - Atualmente, a indústria farmacêutica explora a hortelã no combate à parasitoses, mas um vidro de xarope pode custar R$ 26,00, valor oneroso para famílias de baixa renda. Sob essa perspectiva, a hortelã cultivada em casa ajudaria a minimizar o impacto econômico para esse grupo.
Segundo Mattos, a planta apresenta efeitos benéficos em diferentes formas de consumo, seja como condimento no preparo de alimentos ou como chás. “Confirmamos a sabedoria popular, pois sempre disseram que o chá é bom contra vermes”, afirma.
CARACTERÍSTICAS – A olho nu não é possível para o leigo diferenciar Mentha spicata e Mentha x villosa de outras hortelãs, que são extremamente parecidas. Mesmo assim, há algumas características próprias da planta. As folhas são rugosas e têm poucos pelos.
O óxido de piperitenona está principalmente nas folhas, de onde se extrai o óleo essencial, produto com função de defesa e atração de polinizadores. A surpresa do professor Jean Kleber Mattos e da orientanda Érica Neiva Adjuto com a porcentagem alta se justifica. “O óxido é apenas um dentre os 50 elementos encontrados nos óleos essenciais das seis espécies”, explica a bióloga.
Érica continuou no mestrado o estudo iniciado na graduação. Na época, mediu a quantidade de óleo essencial produzida por diferentes hortelãs, mas foi na UnB que analisou a composição. Existe apenas mais um pesquisador do tema em Brasília, o agrônomo Roberto Fontes Vieira, líder de equipe da Embrapa, co-orientador do estudo.
As amostras coletadas em feiras foram incorporadas à coleção da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen) em Brasília. O órgão também disponibilizou a infra-estrutura para análise do óleo essencial da planta.
GRATUITO
As plantas selecionadas na UnB poderão ser utilizadas pelas pessoas interessadas sem o pagamento de royalties, pois plantas coletadas não podem ser patenteadas. “As patentes abrangem somente processos ou cultivares produzidas por pesquisadores”, diz Jean Kleber de Abreu Mattos.