SAÚDE

Cerca de 47% dos entrevistados afirmaram consumir álcool. Uso de laxantes para emagrecer, tentativa de suicídio e direção perigosa também foram identificados

Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB

 

Em sua pesquisa de doutorado na Universidade de Brasília, a pedagoga e doutora em Ciências da Saúde, Yone Oliveira, elaborou e aplicou questionários para identificar quais os comportamentos de risco que universitários com idade entre 18 e 24 anos possuem e qual a frequência com que eles ocorrem. O trabalho foi feito com estudantes de uma universidade particular do entorno do DF. Os resultados, segundo a pedagoga, são preocupantes.

 

Os comportamentos que mais chamaram atenção foram o consumo de álcool e a atuação no trânsito. Cerca de 47% dos jovens – a maior parte deles, homens – afirmaram consumir bebidas alcoólicas e 53,6% dos respondentes disseram que andaram, na condição de passageiros, em veículo conduzido por motoristas alcoolizados.

 Arte: Anna Soares/Secom UnB

 

No trânsito, outros problemas foram identificados. A maioria dos entrevistados demonstrou andar constantemente acima da velocidade da via e 19% dos jovens apontaram a moto como meio primário de locomoção. "A moto é um dos meios de transporte mais perigosos atualmente e, mesmo assim, seu uso tem se multiplicado na América do Sul. Isso acontece por ser um meio de trasporte barato, tanto para aquisição, como para manutenção".

 

De acordo com os últimos estudos em relação a motos realizados pelo Detran-DF, as motos contribuem mais para o número de acidentes graves no trânsito do que para o crescimento da frota de veículos do país. Os acidentes com motocicletas em que há morte de envolvidos crescem em relação àqueles ocorridos com outros veículos. Para se ter uma ideia, de 2011 para 2012, aumentaram 28%, enquanto houve queda de 13% no número de acidentes em que não havia moto envolvida. 

 

Outra questão observada na pesquisa de Yone Oliveira foi a violência contra si e contra terceiros: 9,5% dos jovens afirmaram já terem tido desejo de suicídio e 6,2% tentaram suicidar-se. Esses números, segundo ela, são muito altos quando comparados aos de outras faixas etárias. A pesquisadora revela que mais mulheres planejaram e tentaram se matar, porém mais homens apresentaram o desejo de suicídio.

 

 Arte: Anna Soares/Secom UnB

 

Entre os jovens de 18 a 24 anos, também foi observada a preocupação com o peso. A pesquisadora constatou que mulheres tendem a controlá-lo por meio da alimentação, e homens, por meio de práticas desportivas. Ou seja, hábitos alimentares saudáveis foram constatados mais em mulheres, porém, elas também apresentaram com maior frequência casos de vômito provocado ou de uso de laxantes para emagrecer. Os homens afirmaram praticar com mais frequência exercícios físicos como corridas, caminhadas, levantamento de peso e outros esportes, no entanto, é mais comum entre eles o excesso de peso.

 

Essa diferença entre os gêneros é explicada pela pedagoga pelo fato de mulheres sentirem a necessidade de resultados mais imediatos, principalmente por sofrerem maior pressão social em relação aos seus corpos.

 Arte: Anna Soares/Secom UnB

 

Apesar de a pesquisa ter sido feita com alunos de uma universidade específica, a orientadora do trabalho, professora Lenora Galdolfi, explica que esse quadro se repete em outros locais. "Acredito que se os mesmos questionários fossem aplicados em outras universidades do DF poucos números mudariam", afirma.

 

De acordo com Yone Oliveira, esses comportamentos entre universitários acontecem pela sensação de liberdade de muitos jovens, tanto os que saem de casa para estudar como os que não saem, mas passam a ser menos controlados pela família. Passar a morar sozinho pode levar a uma sensação de isolamento e solidão que acarretam a autoflagelação e as tentativas de suicídio, segundo a pesquisadora. É nessa época, também, que as pessoas começam a dirigir e a ter a própria renda. Além disso, o ingresso em uma faculdade pode trazer grande pressão para adaptação rápida a um novo ambiente. Yone ressalta que todos esses fatores contribuem para o consumo menos regrado de álcool e a direção mais perigosa.

 Arte: Anna Soares/Secom UnB

 

Um ponto levantado pela pesquisadora foi que essas estatísticas não fogem da tendência mundial. No entanto, explica que sua tese também busca refletir qual é o papel das universidades perante a esse fatos. “A universidade, como espaço de formação de profissionais, faz uma preparação dos jovens para a sociedade. Os espaços de recreação e as palestras devem ser de preparação não só para profissões, mas também para a vida", conclui.

 

Palavras-chave