Um estudo do Ministério da Saúde divulgado hoje mostra que o brasileiro está cada vez mais obeso e com a alimentação menos balanceada. A pesquisa aponta que 48,1% da população brasileira está acima do peso e 15% são obesos. Na última medição, há cinco anos, a proporção era de 42,7% para sobrepeso e 11,4% para obesidade. Especialistas da Universidade de Brasília apontam a má alimentação como a maior causa do aumento nos números.
A professora Eliane Said Dutra, do departamento de Nutrição da UnB, não se surpreendeu com os resultados da pesquisa. “Infelizmente eram números esperados”, afirma. “Hoje em dia há um consumo menor de alimentos com pouca densidade calórica e nutricionalmente ricos, como frutas e legumes”, diz a professora Kênia Mara Baiocchi,do Departamento de Nutrição. Ela destaca, porém, que a obesidade é causada por diversos fatores.
A pesquisa também mostra que 14,2% dos adultos não fazem nenhuma atividade física no tempo livre. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a prática de 30 minutos de atividade física pelo menos cinco vezes por semana. A professora Kênia conta que para lutar contra o sedentarismo é preciso também que a população encontre locais seguros para praticar o esporte. “O governo não oferece isso, nem faz qualquer tipo de regulação sobre a propaganda intensiva de comidas que fazem mal para a saúde.”
Eliane Dutra explica que os números mostram uma transição epidemiológica. “Antes a maioria das mortes eram causadas por doenças infecciosas, hoje são por doenças crônicas e a obesidade é um dos principais fatores de risco”. Ela aponta que muitos esquecem que a própria obesidade é uma doença com desfechos trágicos. “Ela é um fator determinante para acidentes vasculares cerebrais e infarto. Existem obesos saudáveis, mas são uma minoria”, afirma Eliane.
Anelise Rizzolo, do Observatório de Segurança Alimentar e Nutrição da UnB, aponta que uma recente medida do Ministério da Saúde que impõe uma diminuição de sódio em alimentos industrializados, pode minimizar esses problemas. "Não é possível mudar a alimentação totalmente. Temos que encontrar uma maneira de melhorar o que já comemos".
A pesquisa do Ministério da saúde mostra um avanço no sobrepeso nos adultos, mas em crianças e adolescentes a obesidade também avança, segundo Eliane. “No ponto de vista de saúde pública, isso é muito ruim”, diz a professora. Ela afirma que o aumento da obesidade entre os mais novos pode causar uma grande sobrecarga no sistema de saúde no futuro. A professora Kênia sugere uma política intensiva nas escolas para reverter o quadro. “É mais fácil educar as crianças a comerem bem do que reeducar adultos que já comem mal”, diz.
Inclusive está nos planos da UnB uma mudança no futuro da alimentação escolar. O Núcleo de Referência em Alimentação Regional que irá funcionar no Centro de Excelência em Turismo (CET), visa a formar chefes de alimentação escolar. O objetivo é melhorar a qualidade da merenda no País e capacitar cozinheiras e merendeiras na busca de uma alimentação mais saudável e saborosa.
GLOBALIZAÇÃO – A pesquisa também enfocou mudanças na alimentação do País. O brasileiro aumentou o consumo de leite integral e carne com gordura. Entretanto o consumo de hortaliças diminuiu. Para Anelise, o dado mostra que a alimentação está sendo influenciada pela cultura globalizada. “São os efeitos perversos da globalização. Estamos tendo menos tempo para cuidar de nós mesmos”, comenta a professora. Um dado interessante, que mostra uma mudança no padrão alimentar, é a diminuição do consumo de feijão por cinco dias na semana, que caiu de 71,9% para 66,7%.
A professora Kênia deixa claro que para reverter o quadro o melhor é fugir das dietas milagrosas. “Emagrecer muito em muito pouco tempo não resolve, porque a pessoa costuma recuperar os quilos perdidos”, explica a professora. A exceção seriam os casos de obesidade mórbida, quando existe a necessidade de uma perda imediata de gordura. “Só então podemos pensar em alternativas drásticas, como a cirurgia de redução de estômago.”