Pesquisadora da UnB avaliou 134 sites com informações sobre a doença. Somente 39% indicam quem é o autor do conteúdo.

A internet é uma fonte de informações incorporada à vida de muita gente. Mas quando o assunto é saúde e, em especial o tratamento farmacológico para obesidade, é imprescindível tomar cuidado com o que se lê nos sites. O alerta é uma das conclusões da pesquisadora Emília Vitória da Silva, que defendeu tese de doutorado sobre o assunto na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília.


Emília avaliou a maneira como as informações sobre obesidade são apresentadas em uma amostra de 134 sites. A pesquisadora considerou aspectos como a identificação do autor e as referências bibliográficas. Em outra etapa, o conteúdo completo de 38 páginas da internet foi analisado. A amostra foi construída a partir de uma pesquisa realizada em motores de busca amplamente utilizados, o Google e o Altavista.


Ao analisar a apresentação das páginas, Emília observou se havia identificação do autor, da instituição responsável, data de elaboração do material e bibliografia. Foi atribuída uma pontuação a cada um desses itens, e o resultado deixou a desejar: somente 39% dos sites informam quem é o autor e 69% indicam qual é a instituição responsável. As referências bibliográficas aparecem em apenas 14% dos sítios.


O resultado é preocupante quando se considera que, cada vez mais, as pessoas recorrem à internet para obter informações sobre saúde. No Brasil, estima-se que 37% da população tenha acesso à rede de computadores regularmente, dos quais 32% procuram informações ou serviços de saúde. Nos Estados Unidos, oito em cada dez usuários buscam dados sobre o tema na internet e na União Européia o índice chega a 70%.


“A obesidade é um assunto que está em evidência e muitas pessoas acabam lançando mão de terapias pouco convencionais e não seguras para emagrecer”, diz Emília Vitória. “Um texto de saúde publicado na internet deve ter o mesmo rigor de um artigo, com identificação do autor e da instituição que está por trás da informação veiculada”, reforça a pesquisadora. O estudo também revelou que 68% dos 134 sites investigados tinham caráter comercial.


CONTEÚDO FALHO –
Além dos problemas na apresentação, páginas avaliadas com mais profundidade por Emília continham erros de informação ou dados incompletos. Um exemplo são os sites que indicam a fluoxetina – medicamento usado em casos de depressão - para tratar obesidade. “A fluoxetina pode ser indicada como terapia adicional, mas somente quando a obesidade está associada à ansiedade”, alerta a pesquisadora.


Em outros casos, as páginas omitem informações sobre reações adversas e riscos inerentes à ingestão de determinadas substâncias. Uma delas, o tiratricol (droga semelhante a um hormônio produzido pela tireoide), pode provocar hipertireoidismo, problemas cardiovasculares, hipertensão e até infarto. A droga é proibida em vários países.


Emília defende que as sociedades médicas construam e mantenham sites que promovam o uso racional de medicamentos. Essa é uma maneira de neutralizar a força dos interesses comerciais amplamente difundidos na internet. “A rede pode ser um poderoso instrumento de educação e isso não deve ser relegado a um plano secundário”, diz a pesquisadora. “Existem sites, como o da Abeso, que são bons, com informações qualificadas”, indica ela, referindo-se ao site da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (www.abeso.org.br).