Primeiro Prêmio LaSUS elegeu propostas de estudantes de graduação

Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB

 


Construções sustentáveis levam em consideração uso de materiais, temperatura, solo, ruído, fluxo de pessoas, ventilação, uso eficiente de energia, integração com a vegetação, entre outros fatores. Esse conjunto de critérios é explorado no Laboratório de Sustentabilidade aplicada à Arquitetura e ao Urbanismo (LaSUS) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Brasília, em funcionamento há 10 anos. Coordenado pela professora Marta Adriana Bustos Romero, o laboratório realizou o primeiro Prêmio LaSUS no início deste semestre. Participaram estudantes das disciplinas Projeto de Arquitetura 4 e 5. “Queremos que os alunos levem esse conceito de sustentabilidade incorporado desde muito cedo”, comenta Romero.


Quatro grupos de estudantes foram agraciados em primeiro, segundo e terceiro lugar, e duas alunas receberam menção honrosa. “Todos os projetos tinham conceito de inovação urbana, proteção solar, preocupação com pedestre, mobilidade urbana, uso de determinados materiais e humanização dos espaços. Cada projeto focou um aspecto, mas todos trabalharam a sustentabilidade”, comenta a professora Ana Carolina Sant’Ana, que, junto com professor Ederson Teixeira, leciona a disciplina Projeto de Arquitetura 5 – Edificações em Altura (PA 5). Participaram também os professores Caio Frederico e Silva e Ana Zerbini, da disciplina Projeto de Arquitetura 4 – Grandes Vãos (PA 4).


“A ideia é valorizar o trabalho dos estudantes. As disciplinas PA 4 e PA 5 são bem parecidas e geram produtos muitos bons”, conta Sant’Ana. “Sentimos que estamos no caminho certo, passando informações para a vida deles e sobre a realidade do mercado”, continua.

 

Projeto Espaço BSB, ganhador do primeiro lugar. Imagem: Divulgação


O projeto desenvolvido por Vivianne Martins de Oliveira Miranda e Guilherme Nery Lacerda, nomeado Espaço BSB, ganhou o primeiro lugar. No quinto semestre de Arquitetura e Urbanismo, os estudantes desenvolveram proposta de centro cultural multifuncional localizado no Parque da Cidade. “A ideia é que fosse um local que respondesse às necessidades reais da população brasiliense. Há demanda muito grande por espaços assim no DF, para eventos ao ar livre e de graça”, diz Vivianne Martins. “Fizemos um pavilhão com infraestrutura para a população. A ideia era a de aproveitar o terreno no Parque da Cidade, planejado para acolher grandes eventos”, completa Guilherme Nery. O pavilhão se propõe a ser um espaço com funções comercial, expositiva e cultural.


A dupla ganhou tablets pela proposta. “Tentamos fugir da Brasília do cartão postal. Tentamos mostrar o que a cidade realmente é. Todo mundo, quando pensa em Brasília, pensa no Plano Piloto. Queríamos levar as pessoas a mudar a forma de pensar a capital”, conta Nery. Para tanto, os vencedores do prêmio projetaram um passarela que representa as regiões administrativas do Distrito Federal. “O intuito era o de ser bem flexível, adaptável a outras realidades, de forma que o espaço pudesse ser apropriado à demanda”, destaca Vivianne Martins.


“Nossa ideia era a de não criar barreiras visuais. Era fazer como que o projeto se integrasse ao parque”, continua Nery. Os critérios de sustentabilidade estão nas escolhas de materiais de construção. No chão, utilizaram piso hidrante feito de borracha reciclável, que segue o ciclo da água. Foram usados também painéis solares. “Com o propósito de promover conforto térmico, o pavilhão é bastante aberto para que haja muita ventilação e baixo uso de ar condicionado”, afirma Nery.


“A proposta era a de que fosse um centro cultural acessível. Queríamos um lugar realmente público, fácil de chegar. E o Parque oferece isso: é bem posicionado, tem estacionamento, tem acesso por ônibus”, elaboram os estudantes. “Nós produzimos muitas coisas legais na Universidade, que podem ir para a comunidade e gerar discussão”, pondera Guilherme Nery.

 

Pavilhão BSB, das estudantes Caroline Ferreira Fernandes e Gabriela Ribeiro Moura, levou o segundo lugar. Imagem: Divulgação.

SEGUNDO LUGAR – As estudantes Caroline Ferreira Fernandes e Gabriela Ribeiro Moura desenvolveram projeto com temática semelhante ao de Vivianne Martins e Guilherme Nery. Igualmente inspirada em Brasília, a proposta se chama Pavilhão BSB, pensado, também, para o Parque da Cidade. A dupla ganhou kit de livros e curso de aperfeiçoamento em software. “O prêmio nos dá gás. Valoriza nosso esforço e nos faz pensar que estamos no caminho certo”, conta Gabriela Ribeiro.


“O pavilhão é um projeto para sair da Brasília vista por quem é de fora, que imagina que a cidade é um local com função política e ícone de arquitetura”, comenta Gabriela Ribeiro. “Brasília é uma cidade para pessoas e, cada vez mais, elas se apropriam dos lugares”, avalia.


O Pavilhão BSB apresenta proposta de espaço amplo, formado por pórticos que se entrelaçam fazendo alusão a uma fita de DNA, que seria o "DNA cultural do brasiliense”, segundo a estudante. “Ficou com cara de instalação”, define Ribeiro.


Remetendo a Brasília, o eixo do pavilhão é formado por praça molhada, com acesso a auditórios. O complexo hídrico ocorre graças a um sistema de captação de água, garantido por pórticos muito vazados e cobertura levemente inclinada. “Tudo o que agredisse nosso terreno seria responsabilidade nossa”, explica. “A praça é aberta para o subsolo e permite maior incidência de luz e trocas de ar para poupar energia elétrica. Nossa proposta era ter um grande vão e sustentabilidade, além de ser um projeto viável.”

 

Projeto multifuncional em Águas Claras, do CO.Arte, premiado em terceiro lugar. Imagem: Divulgação


TERCEIRO LUGAR – Os estudantes Leandra Vanessa Jung Santos, Roberta Carolina e Pedro Rodolfo levaram o terceiro lugar na premiação com o projeto CO.Arte e também ganharam kit de livros. O desafio do trio foi desenvolver um edifício em altura, em Águas Claras, com as funções de hotel, edifício comercial e de escritórios. A pergunta que norteou o projeto foi “Como criar demanda por hotel em Águas Claras, já que é uma região com muitas residências?”, relata Pedro Rodolfo.


A solução foi uma proposta de co-working criativo, para o lado empresarial do projeto, e residência artística para vários segmentos de arte e para o lado hoteleiro. Há também previsão de local de exposição.


O edifício segue as etapas da criação artística. “No térreo, fica o local da inspiração, da reflexão. Com pé direito duplo, promove um espaço mais livre”, descreve Roberta Carolina. Há uma andar de transição, com horta para restaurante. No segundo andar, há área pública para uso coletivo. “Para promover a inserção da comunidade”, diz Leandra Vanessa. No projeto, existem também salas com espaço para workshop.


Os escritórios, feitos de contêineres reutilizados, são modulares. O objetivo é que sejam adaptáveis ao surgimento da demanda. Há previsão de praça ampla, com local para exposições temporárias, feiras, exibição de filmes. “Tentamos levar inovação para Águas Claras”, diz Pedro Rodolfo. “Nossa proposta focou fluidez, visibilidade e interação entre as artes e os artistas”, resume Leandra Vanessa.


Foram utilizados brises para promover proteção solar e construídos jardins internos para garantir conforto térmico e acústico. “Utilizamos estrutura em aço, que gera construção mais rápida e limpa”, comenta Roberta Carolina. “É um produto que deveria ser introduzido mais amplamente na construção brasileira. Deveriam usar para construir e, não, para exportar”, continua. “Sustentabilidade não são só soluções mirabolantes. É pensar em como manter o prédio por 50 anos”, pondera.

 

Da esquerda para direita: Professores Ana Carolina Sant’Ana, Marta Romero e Ederson Teixeira. Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB


LASUS – “A metodologia adotada no LaSUS é a de pensar a arquitetura com o local. Sempre procuramos trabalhar com projetos viáveis e que tenham pé no chão, conscientes e sustentáveis. Os alunos sentem isso. Eles dizem: 'aprendemos coisas que dá para usar no dia a dia'”, afirma a professora Ana Carolina Sant’Ana.


“Aqui, no Laboratório, o objetivo é pensar a sustentabilidade de forma ampla, abrangendo energia, solo, relação com o uso excessivo de carros, métodos de construção, especialmente em cidades, uso de materiais. É importante também pensar o lado social”, encerra a professora Marta Romero, coordenadora do Laboratório de Sustentabilidade aplicada à Arquitetura e ao Urbanismo, da UnB.