A globalização impôs inúmeros desafios à sociedade, que incluem a agilidade e a segurança na troca de informações. No Brasil, o governo federal criou um mecanismo de autenticação chamado de Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil). Com ela, nasceram as certificações digitais que permitem que os dados do Estado circulem na internet com segurança.

O sociólogo Marcello Cavalcanti Barra, pesquisador da Universidade de Brasília, decidiu investigar como o processo ocorreu no país. Durante o mestrado, Marcello Barra procurou analisar o valor do conteúdo protegido pela ICP-Brasil. Descobriu que a quantidade de dados sigilosos que circula pela rede em um ano equivale, em valores econômicos, a 100 vezes o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. “É como se um século de economia do país circulasse virtualmente em um único ano”, constata.

O estudo de Barra, feito ao longo de cinco anos, acaba de ser transformado em livro. Na obra Leviatã Eletrônico: a trama política que colocou o Estado na Internet, ele mostra o embate de interesses de diferentes grupos – banqueiros, políticos, técnicos da burocracia, empresários e OAB – para desenvolver o sistema. O leviatã eletrônico surgiu para nomear essa disputa política.

RECONHECIMENTO – O conceito criado por Marcello Barra é inédito. Segundo a socióloga Fernanda Sobral, que orientou a dissertação de mestrado, Barra encontrou o termo adequado para nomear a estratégia adotada pelo Estado, que se utilizou dos conhecimentos científicos e das condições políticas para a construção e a absorção da ICP-Brasil. “Com o leviatã eletrônico, Barra mostrou ao mundo a força, o poder do Estado”, analisa.

“O mais surpreendente para mim foi o ‘leviatã eletrônico’ se tornar referência inédita”, declara o pesquisador. Durante o estudo, ele realizou entrevistas com pessoas envolvidas no processo de criação do sistema, analisou a legislação e a própria tecnologia desenvolvidas para garantir a segurança necessária aos dados.