Dórea falou à comunidade científica sobre a contaminação de crianças com timerosal, substância à base de mercúrio usada como conservante, encontrada em vacinas administradas pelo sistema público de saúde brasileiro.
“Eu aproveitei meu tempo no evento para chamar a atenção sobre a vulnerabilidade das crianças no terceiro mundo”, destaca o professor. “Elas apresentam uma taxa de exposição ao mercúrio que não se compara à de crianças de países desenvolvidos da Europa e América do Norte”, revela. O professor da UnB é uma das maiores referências mundiais em pesquisas sobre contaminação por baixas doses de mercúrio e defende o fim da utilização do timerosal em vacinas para bebês e crianças.
De acordo com o pesquisador, os países desenvolvidos não utilizam mais o composto do mercúrio como conservador de imunizadores infantis. Talvez por isso, eles estão apáticos ao problema terceiro-mundista e não repercutiram a apresentação que Dórea fez na conferência internacional. O cientista brasileiro avalia que, infelizmente, os pesquisadores estrangeiros não têm interesse no assunto, pois o problema do mercúrio em vacinas infantis já foi superado por eles.
No Brasil, o uso do conservador à base de mercúrio não é uniforme. Medicamentos comercializados em clínicas particulares costumam não apresentar a substância tóxica. Já as vacinas administradas pela rede pública contêm o timerosal. “A substância barateia a comercialização”, explica Dórea. No entanto, a exposição ao composto pode acarretar impactos negativos ao desenvolvimento neuromotor de crianças susceptíveis, “principalmente durante os primeiros seis meses de vida, quando a criança toma mais vacinas”, destaca.
O cientista brasileiro dividiu a mesa de debates com representantes da Organização Mundial de Saúde, da Agência de Proteção Ambiental, do Instituto Nacional para a Doença de Minamata, e com o pesquisador de Harvard Philippe Grandjean. A 11ª ICMGP foi realizada entre 28 de julho e 2 de agosto.
CONFERÊNCIA DE MINAMATA – Segue até a sexta-feira (11) a Conferência Diplomática da Convenção de Minamata. O evento da Organização das Nações Unidas foi convocado para dar início ao processo de assinaturas de um tratado ambiental sobre a redução do uso e das emissões globais de mercúrio em produtos industriais.
O documento, que ficou conhecido como Convenção de Minamata, foi discutido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), na convenção de Genebra, que aconteceu em janeiro deste ano. O texto terá força de lei, se for assinado por pelo menos 50 países membros da ONU e ratificado internamente por seus Congressos.