Estudo avalia a percepção sobre o produto e sua relação com excesso de peso. Homens superam as mulheres nos índices de sobrepeso, hipertensão e pré-diabetes

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Quais dos alimentos a seguir contêm quantidades significativas (maior que 10%) de açúcar: sorvete, bolo, milho, açaí, manteiga, ovo, carne, caldo de cana, batata doce, biscoito, granola, iogurte de morango? Quantos sachês de açúcar (com 5 g) estão contidos em uma lata de 350 mL de refrigerante ou suco normal? Quem pratica atividade física pode consumir mais açúcar que uma pessoa sedentária?

 

Essas foram algumas das perguntas feitas com servidores da UnB por João Gabriel Marques, mestre pelo Programa de Pós-graduação em Nutrição da Universidade de Brasília. Entre agosto e outubro de 2015, ele entrevistou 407 servidores para constatar a percepção e o conhecimento que tinham sobre o açúcar e sua relação com o excesso de peso.


O egresso conta que, de maneira geral, quando as pessoas têm mais conhecimento sobre alimentação, fazem escolhas mais saudáveis. Porém, depois de tabular e interpretar os dados, constatou que com o açúcar não é bem assim. “Quando observamos o conhecimento relacionado ao produto, isso não se reflete. Às vezes, há menor consumo, às vezes não. Talvez porque seja um ingrediente mais apelativo, em relação à palatabilidade, do que outros alimentos”, especula Marques.


Segundo ele, entre os participantes, a maioria dos homens e das mulheres consome mais sucos industrializados e refrigerantes normais do que diet, light ou zero. Em relação à frequência, 30% consomem bebidas açucaradas mais de quatro vezes por semana, índice considerado alto pelo pesquisador.

João Gabriel e as professoras que participaram de sua banca na defesa de sua dissertação. Foto: Arquivo pessoal


Na pesquisa, João Gabriel verificou que os entrevistados que apresentavam a condição de pré-diabetes tinham, em geral, uma percepção mais negativa sobre o açúcar, mas consumiam maior quantidade de sucos normais do que as pessoas sem esse quadro. “Talvez as pessoas tenham a percepção de que o suco seja mais saudável que o refrigerante. No entanto, é praticamente a mesma coisa porque não é um suco de verdade, é açúcar com cor”, afirma.


“Vimos que os pré-diabéticos conheciam mais sobre o açúcar e as doenças correlacionadas. Já os participantes hipertensos sabiam menos. Por exemplo, só 14% deles responderam corretamente que o açúcar pode causar hipertensão e isso é interessante porque os hipertensos sempre pensam no sal, não no açúcar”, conta Marques.


No questionário do ex-estudante, outras questões de saúde foram percebidas. Das mulheres entrevistadas, 44% estavam acima do peso (com sobrepeso ou obesidade), mas esse número sobe para 70% entre os homens. O grupo masculino também apresentava maior incidência de pessoas com hipertensão (27,5%, enquanto o mesmo ocorria com 18% das mulheres) e de pré-diabetes (17,4% dos homens e 8% das mulheres).


“O mínimo que essa pesquisa traz é uma base para que outro grupo possa dar sequência ao estudo. Eu recomendo no final do trabalho que se teste como o maior conhecimento ou a melhor percepção influenciam a saúde, porque, no final das contas, é o que queremos: ver se as nossas variáveis, quando manipuladas, melhoram a saúde da população”, finaliza João Gabriel Marques, que defendeu sua dissertação e foi aprovado em fevereiro deste ano.


Para seu orientador no Programa de Pós-graduação em Nutrição, Marcelo Hermes-Lima, o trabalho realizado pelo ex-aluno é inovador. “Esse não foi um estudo focado no conhecimento propriamente dito do açúcar, mas nas impressões, nos medos, nos conhecimentos por jornal e revista, o que chamamos de percepção. Esta é uma pesquisa diferente, não convencional, de ponta, pois nunca foi feita a correlação entre a percepção sobre um alimento e os índices de doenças – se é pré-diabético, hipertenso, obeso. Ciência é fazer algo original para a humanidade”, ressalta Hermes-Lima.

Para orientador Marcelo Hermes-Lima, o ponto inovador da pesquisa é o foco nas impressões sobre o açúcar. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB


O professor lembra também que Marques desenvolveu toda a pesquisa praticamente em um ano, pois mudou de projeto no meio do mestrado. “O Gabriel é ótimo, excelente, um dos melhores alunos que eu já tive. Em um ano e dois meses, ele fez algo muito difícil: teve metade do tempo para desenvolver o trabalho dele, coletar os dados, fazer estatística, interpretar os resultados e escrever. Surpreendeu, mas não muito, porque eu já o conhecia desde quando foi meu monitor de bioquímica, e eu sabia que ele era bom.”


RESPOSTAS – Para quem respondeu às questões colocadas no início desta matéria, segue o gabarito. Sorvete, bolo, açaí, caldo de cana, biscoito, granola e iogurte de morango contêm mais que 10% de açúcar. Ficam de fora da lista: milho, manteiga, ovo, carne e batata doce. E cada lata de suco ou de refrigerante normal contém de sete a oito sachês de açúcar.


Sobre a última questão, quem pratica atividade física, no geral, não pode consumir mais açúcar que uma pessoa sedentária. No caso mais comum, que é o de atletas amadores, o açúcar em excesso se torna tóxico dentro do organismo. No caso de superatletas, há divergências na literatura.