Duas enzimas usualmente importadas da Coreia e dos Estados Unidos, essenciais para fabricar o teste RT-PCR (do inglês Reverse-Transcriptase Polymerase Chain Reaction) de detecção da covid-19, poderão ser produzidas pela Universidade de Brasília. A professora Lidia de Moraes, do Instituto de Ciências Biológicas (IB), vai iniciar estudos para fabricar as enzimas TAQ DNA polimerase e transcriptase reversa em seu laboratório de Biologia Molecular na UnB.
Será uma forma de contornar série de limitações para ter acesso a essas enzimas. Segundo a pesquisadora, com a pandemia de covid-19, os fabricantes estão demorando de dois a três meses para entregar as enzimas importadas, que antes levavam apenas 15 dias para chegar à UnB. Se a Universidade começar a produzir as substâncias, além de ter uma produção autossuficiente para pesquisas, poderá também fornecê-las para laboratórios particulares, que oferecem o teste RT-PCR.
“Se conseguirmos produzir essas enzimas, a UnB não vai ter mais que pagar um valor elevado pelas substâncias, em dólar”, afirma a docente Lidia Moraes, que recebeu R$ 30 mil para iniciar o projeto, por meio do edital DPI/DEX 001/2020 do Copei da UnB. Com o recurso, ela pretende se dedicar à produção e ao armazenamento das enzimas.
Para se ter uma ideia, um kit completo de transcriptase reversa e TAQ DNA polimerase pode chegar a custar R$ 6 mil e permite realizar cem exames.
A docente já adquiriu um kit que poderá ser usado como comparativo nos testes de controle de qualidade, que serão feitos com as enzimas que ela produzir em laboratório.
PROCEDIMENTO – Com os recursos iniciais, a professora do IB pretende começar pela produção da TAQ DNA polimerase, que é um pouco mais barata. Posteriormente, será a vez de produzir a transcriptase reversa, quando conseguir receber mais verba. A meta é pleitear mais R$ 180 mil por meio de edital da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) para complementar os recursos já obtidos.
As enzimas TAQ DNA polimerase e transcriptase reversa recombinantes são produzidas a partir da bactéria Escherichia coli. Para fabricar as enzimas, a professora usa tanques de 10 litros fermentadores de bactérias. Depois de produzidas, as enzimas são armazenadas em freezers no laboratório e poderão ser usadas também em outras pesquisas.
A produção das enzimas feitas em laboratório na Universidade também permitirá baratear o custo do kit usado para fabricar os testes, que custava R$ 270 (com 50 reações) e agora está R$ 870, com a alta do dólar.
MECANISMO – A presença do novo coronavírus no organismo pode ser identificado por meio do chamado teste RT-PCR, altamente sensível para identificar a carga viral de um indivíduo. Neste exame, a detecção do SARS-CoV2 é realizada por meio do material genético do vírus. Para o exame, coleta-se secreção naso e orofaringe do paciente por meio de swab (cotonete). O teste é indolor, mas pode ser incômodo. Deve ser feito do 2o ao 12o dia do início dos sintomas.
O exame funciona por meio da enzima transcriptase, que transforma o RNA do vírus e o copia na forma de DNA complementar. Esse DNA é então amplificado em 100 milhões de vezes pela enzima DNA polimerase. Isto permite detectar a presença do vírus e verificar se a pessoa está contaminada.