Pesquisa em parceria com instituição mineira avalia potencial terapêutico em tratamentos de complicações como as da covid-19 e da sepse

Ensaio ELISA - Banco de Imagens

Duas moléculas sintéticas apresentaram eficácia anti-inflamatória em testes laboratoriais liderados pela Universidade de Brasília em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Os achados, divulgados este ano, aumentam a expectativa pela produção de fármacos que minimizem as complicações por doenças graves e a necessidade de internações. Os resultados preliminares fazem parte de pesquisas iniciadas em 2018, a partir de tese de doutorado defendida no Instituto de Ciências Biológicas (IB).

 

As propriedades anti-inflamatórias dos compostos classificados quimicamente como hexahidroimidazopiridinas foram constatadas em modelos celulares e animais que simularam reações presentes no agravamento da covid-19 e da sepse, condição caracterizada pela resposta sistêmica a infecções. Em ambos os casos, os dados indicam a capacidade das moléculas em modular respostas imunológicas, com a redução de danos em tecidos e a melhoria da sobrevida das células.

 

Uma das respostas animadoras representou a sobrevivência de até 100% de camundongos induzidos a quadros de sepse por lipopolissacarídeos (LPS), substâncias tóxicas encontradas em paredes celulares de algumas bactérias. Esses animais foram protegidos pelas hexahidroimidazopiridinas classificadas como 4B e 4J. Nenhum dos animais desprotegidos teve sobrevida superior a seis dias. Os testes foram aprovados em comitê de ética e seguiram rigorosos padrões laboratoriais. 

A utilização das moléculas 4B e 4J resultaram, respectivamente, na sobrevivência de 40 e 100% da amostra. Imagem: Divulgação

 

A partir da interação com farmacologistas, os experimentos prometem avançar. “Pretendemos, após as análises de toxicidade, entrar em contato com hospitais da rede pública do Distrito Federal (DF) ou com o Hospital Universitário de Brasília (HUB/UnB) para viabilizar o teste clínico 1”, diz o coordenador do estudo na UnB, José Raimundo Corrêa, em menção à fase de testes em seres humanos. “Pesquisas adicionais são necessárias para estabelecer a segurança em humanos, mas os resultados até agora são muito animadores.”

 

As hexahidroimidazopiridinas derivam das imidazopidirinas, estruturas moleculares que dão nome a um grupo de fármacos de múltiplas aplicações que atuam no sistema nervoso central. Corrêa explica que a síntese dessas moléculas ocorre a partir de reações químicas relativamente simples e que compreendem quatro etapas: escolha de materiais iniciais, montagem da estrutura, adição de grupos funcionais e purificação e testes.

 

Apresentação simplificada. Informações: Brenno Amaro Neto e Giovanni Amarante. Arte: Isabel Landim/Secom UnB

 

A coordenadora dos trabalhos na UFJF, Patrícia Elaine de Almeida, destaca que o estudo tem abordagem inovadora e é promissor, entre outros aspectos, por atuar na inibição da citocina TNF-α, mediador químico produzido pelo corpo durante infecções. “Além disso, a pesquisa amplia o conhecimento sobre a modulação do metabolismo lipídico das células hospedeiras em processos inflamatórios, um campo ainda pouco explorado, e muito importante, uma vez que os microrganismos se beneficiam dessa estratégia para sobreviver e causar a doença.”

 

Outra citocina combatida pelas moléculas utilizadas na pesquisa é a IL-6, presente durante processos inflamatórios. Os derivados das imidazopiridinas produzidos na pesquisa evitam que a resposta imune seja ativada em excesso por essas citocinas e simplificam o combate à inflamação.

 

ESTÍMULO À PESQUISA José Raimundo Corrêa afirma que “a pesquisa teve um efeito multiplicador ao formar recursos humanos qualificados, incluindo sete estudantes de iniciação científica e dois de doutorado”. Integrante do Laboratório de Microscopia e Microanálises (LMM/IB), ele avalia que esses profissionais, capacitados em ambiente de pesquisa de excelência, estão prontos para contribuir para o avanço da ciência. Também destaca a obtenção de duas publicações científicas e de uma patente no decorrer dos estudos.

Estudante de iniciação científica na UFJF. Pesquisa envolve estudantes de graduação e do doutorado. Foto: Divulgação

 

“Este trabalho é um exemplo notável de como a ciência produzida na UnB e no DF pode gerar impactos profundos e abrangentes. Ela combina descobertas científicas de ponta, formação de recursos humanos, inovação tecnológica e benefícios sociais, consolidando a UnB como líder na produção de conhecimento e soluções para os desafios globais da saúde”, afirma o professor Corrêa, que também elogia a atuação da Universidade Federal de Juiz de Fora e considera Patrícia Elaine uma “brilhante pesquisadora na área da Imunologia”. 

 

Para a professora da UFJF, o trabalho conjunto amplia oportunidades de formação e evidencia a relevância da ciência nacional. “A parceria com a UnB é extremamente valiosa, pois permite a integração de expertises complementares e fortalece a pesquisa translacional no Brasil. A colaboração entre meu grupo de pesquisa e o do professor José Raimundo Corrêa possibilita o compartilhamento de infraestrutura, o conhecimento e metodologias, acelerando o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas.”

 

O estudo conta ainda com o protagonismo dos professores Brenno Amaro Neto, da UnB, e Giovanni Amarante, da UFJF. As pesquisas recebem financiamento das fundações de apoio à pesquisa do DF (FAPDF) e de Minas Gerais (FAPEMIG). 

 

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