SECOM/UnB: De que maneira o vírus H1N1 é transmitido?
Ricardo Martins: Pela via aérea, por meio das gotículas que são eliminadas pela tosse ou espirro da pessoa contaminada com vírus. Pode ser também quando alguém contaminado assoa o nariz ou coça o olho de modo a ficar com o vírus na mão. Após isso, se ela cumprimenta outra pessoa, ou coloca a mão em um corrimão, mesa, ou pega objetos em geral, pode acabar transmitindo o vírus.
SECOM/UnB: Quais seriam os locais que propiciam situações de risco?
Ricardo Martins: Como o vírus está circulando, lugares de aglomerações ou fechados são os de maior chance de disseminação da doença. Atualmente, São Paulo é o estado mais crítico, mas o Sul do país, no geral, é onde o vírus gera mais dificuldade.
SECOM/UnB: Quais são as formas de prevenir a doença?
Ricardo Martins: O ideal é usar lenço de papel, que pode ser descartado ao tossir ou espirrar. Se isso não for possível, deve-se fazer o chamado “toalete da tosse”, ou seja, sempre tossir contra o cotovelo. Ainda assim, independente de estar gripado ou não, sempre lavar as mãos sistematicamente: quando assoar o nariz, após ir ao banheiro e antes da alimentação. Outra forma seria o repouso em casa, no caso de a pessoa se sentir gripada, para que nenhum vírus seja disseminado. Além, é claro, da vacina.
SECOM/UnB: Como está a situação do vírus no Brasil?
Ricardo Martins: O vírus já está em circulação no nosso país. Para a nossa surpresa, ele se antecipou. Normalmente, ele circula nos meses de inverno, mas dessa vez ele chegou no outono. Então, prejudicou todo o esquema de proteção que tínhamos planejado. Por exemplo, as vacinas que começaram em 30 de abril levam de quatro a seis semanas para de fato imunizarem um indivíduo. Estamos correndo atrás desse atraso.
SECOM/UnB: Mas ainda vale a pena se vacinar?
Ricardo Martins: Com certeza. Principalmente para quem faz parte dos grupos de risco. Esses possuem uma grande necessidade da vacina.
SECOM/UnB: Quais são os grupos de risco?
Ricardo Martins - Crianças com menos de dois anos, pessoas acima de 60 anos, profissionais de área de saúde, população privada de liberdade e indígenas. Outro grupo é o de pessoas que já possuam doenças crônicas como diabetes, asma e doença pulmonar obstrutiva crônica.
SECOM/UnB: Como é possível identificar uma gripe causada pelo H1N1?
Ricardo Martins: É importante lembrar que não é qualquer gripe que é causada pelo H1N1. A gripe com os sintomas agudos respiratórios como tosse, coriza nasal, dor de garganta e outro sintomas como febres baixas podem ser tratados em casa. Se, além dos sintomas da gripe comum, o paciente apresentar febres altas, dores musculares, dores nas articulações, falta de apetite e moleza no corpo, o tratamento deve ser procurado o mais rápido possível.
SECOM/UnB: Como é feito o tratamento em hospitais?
Ricardo Martins: A rede pública oferece esse recurso. O medicamento atualmente usado é Oseltamivir. Dependendo da gravidade da situação, o paciente pode ter que ser internado. Se o H1N1 é encontrado nas primeiras 48 horas, e a partir daí já se der início ao tratamento, a chance dele ser bem sucedido é bastante grande. Normalmente, quadros que chegam a óbito ocorrem por causa da demora de mais de seis dias para procurar o tratamento.
SECOM/UnB: Existe a necessidade de isolamento?
Ricardo Martins: Em uma situação de epidemia, é muito difícil que existam leitos de isolamento suficientes. Talvez, nesse momento inicial, o isolamento respiratório ainda possa ser feito.
SECOM/UnB: Por que o tratamento do H1N1 é mais difícil que o da gripe comum?
Ricardo Martins: Por dois motivos. Primeiro por ser uma doença de disseminação pela via aérea, limitar a disseminação do vírus acaba sendo praticamente impossível. O segundo aspecto de dificuldade é que ela apresenta sintomas iniciais benignos, os mesmos de uma doença benigna. Porém, existe um percentual de pessoas que morrem devido a complicações no quadro. E prever quem são as pessoas suscetíveis a essas complicações não é possível. Temos que ver todos como alguém passível dessa complicação.
SECOM/UnB: Qual seria a diferença entre o vírus da gripe comum e a provinda do H1N1?
Ricardo Martins: Clinicamente não há diferença. As vacinas, por exemplo, cobrem os dois vírus de Influenza tipo A H3N2 (H3N2 – gripe comum – e o H1N1), e dois outros vírus da Influenza tipo B.
A campanha nacional de vacinação, promovida pelo Ministério da Saúde, terminou na última sexta-feira (20). Estados e municípios que não atingiram a meta podem continuar vacinando. Saiba mais.