Pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) tenta encontrar um pássaro tipicamente brasiliense. Descoberto em 1958, durante a construção da capital, o tapaculo-de-brasília (Scytalopus novacapitalis) sempre foi considerado uma espécie rara. Há 30 anos, 68 indivíduos foram registrados em todo Distrito Federal. Desde o ano passado, Luane Reis dos Santos, aluna do programa de doutorado em Ecologia, do Instituto de Ciências Biológicas (IB), percorre os pontos onde a ave tem alta probabilidade de ocorrer. Até agora, apenas duas foram localizadas. Uma próxima ao Parque Nacional, outra perto da Reserva Ecológica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A bióloga já percorreu 15 pontos de todo o Distrito Federal e da região do Entorno. Os locais visitados foram definidos com base em um estudo de seu orientador, o professor Miguel Ângelo Marini, chefe do Departamento de Zoologia do IB. “Ele fez um estudo com a distribuição geográfica de várias espécies do Cerrado e conseguiu apontar onde o pássaro tem alta probabilidade de ocorrer, com base em características ambientais e climáticas”, explica.
A avaliação considerou apenas aspectos ambientais. Por isso, os impactos humanos são a mais provável causa do desaparecimento. “As matas em que ele foi registrado eram alagadas e densas, com algum grau de preservação das áreas de Cerrado adjacentes”, afirma. A ave ocorre em matas de galeria.
SUMIÇO – Uma das razões apontadas pela pesquisadora para o desaparecimento do tapaculo é a degradação ambiental. “Sabemos que ele existe em unidades de conservação, mas em áreas que não foram preservadas isso não acontece”, afirma Luane. Além do Distrito Federal, o pássaro foi registrado em Goiás, São Paulo e Minas Gerais. “Também irei até esses lugares para tentar encontrá-lo”, afirma Luane.
A pesquisadora explica que a ave é difícil de ser detectada por que é pequena e de coloração cinza escuro, o que a torna quase imperceptível no meio da vegetação. "Isto associado ao fato de que a espécie é rara, o que exige uma certa experiência do observador com aves para saber exatamente em quais lugares ela pode estar", afirma Luane.
A busca da pesquisadora deve terminar no final de 2012, quando o estudo será finalizado. “Até lá, queremos ter resultados mais consistentes”, afirma Luane. Ela explica que o sumiço do tapaculo é um sinal de que não só as matas de galeria, mas também o entorno delas precisa ser preservado. “Quando a gente perde uma espécie perdemos também a sua função ecológica, o que é prejudicial de várias formas. Seja na dispersão de sementes ou na manutenção do equilíbrio na cadeia alimentar, por exemplo”, explica Luane.