Grupo de trabalho da universidade e da Infraero vai contribuir para controlar populações de animais que ameaçam segurança de voos. Equipe trabalha em dez capitais do país.

O Aeroporto de Brasília registra 6% de todas as colisões entre aviões e animais no país. É o segundo maior índice, com 56 incidentes registrados no ano passado, atrás apenas de Campinas, com 58. Para evitar novos acidentes, o Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDT) e a Infraero elaboraram uma estratégia de controle da fauna nas regiões próximas ao aeroporto.


O professor Felipe Lago, do Departamento de Engenharia Florestal e coordenador do programa, diz que o manejo dos pássaros no Aeroporto JK deve começar até o final do ano. “As colisões ocorrem frequentemente com os quero-queros, mas espécies maiores como os carcarás oferecem mais risco”, explica. O início dos trabalhos depende apenas de autorização do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama). No total, 60 pessoas fazem parte da equipe que inclui veterinários, biólogos e estagiários. O convênio UnB/CDT e Infraero está orçado em R$ 8,6 milhões. A maior parte dos recursos, um montante de R$ 7,9 milhões, é empregada pela empresa pública que administra os aeroportos.


A ideia é que os pássaros sejam realocados para outras áreas da cidade. Cada espécie terá um destino diferente. Animais silvestres serão capturados e levados para áreas em que podem ser preservados. Em casos de superabundância de indivíduos, animais sinantrópicos – aqueles que aproveitam da presença do homem para se proliferar – podem ser sacrificados. “São espécies como o urubu, que não tem problemas de conservação”, avisa o professor.


Desenvolvido desde 2009, o programa atua em aeroportos de outras nove capitais: Belém, Cuiabá, Fortaleza, Macapá, Maceió, Manaus, Porto Alegre, Recife e Salvador. O manejo é apenas uma das vertentes do trabalho. “Monitoramos os aeroportos com base nos diagnósticos das espécies para entender a dinâmica populacional: a variação do número de animais, como se alimentam e onde ficam”, informa Felipe Lago.


INCIDENTES –
 Segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), 966 das colisões em 2010 envolveram aves e 32 outros animais. O registro é 5% maior em relação ao ano anterior. O motor e a fuselagem dos aviões sãos as partes mais atingidas. Cerca de 40% dos incidentes ocorrem nos procedimentos de pouso e decolagem. Mais da metade dos animais atingidos não é identificada (546). Entre os reconhecidos, estão em maior número os quero-queros (131), urubus (91), carcarás (52) e corujas (44).


Répteis e pequenos mamíferos também colidem com aviões. Segundo o professor da UnB, há registros de incidentes com cobras, veados, raposas e cachorros-do-mato. Até seres aparentemente inofensivos oferecem riscos. “O caramujo africano já fechou pista de aeroporto. Eles se espalham em grandes grupos e podem diminuir a aderência dos pneus”.


O trabalho de diagnóstico do programa revelou situações de risco causadas pelos hábitos dos animais. Em Fortaleza, a rotina das andorinhas é motivo de preocupação nos voos noturnos. Elas dormem nas instalações dos terminais e costumam voar em bandos entre às 17 e às 5h.  No aeroporto de Recife, as corujas suindaras são o perigo. Elas se alojam nos telhados das residências vizinhas e, com frequência, passeiam pelas pistas.


O CDT vai sediar, a partir de 4 de julho, o Primeiro Encontro do Grupo de Trabalho do Convênio UnB/CDT e Infraero. Além dos integrantes do programa, equipes do Ibama e da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) devem participar do evento, que inclui apresentações da situação nos aeroportos, workshops e treinamentos.