Universidade de Brasília participa de levantamento nacional que vai entrevistar 24 mil parturientes em todo o Brasil. Pesquisadores acreditam que aumento esteja relacionado ao crescimento de cesarianas.

A preocupação com o aumento de partos prematuros e o alto índice de cesarianas motivou especialistas das principais universidades e instituições de pesquisa e de saúde brasileiros a investigarem a relação da precocidade dos recém-nascidos com o tipo de nascimento. Treze mil mulheres que deram à luz foram entrevistadas desde fevereiro, quando o trabalho de campo começou. No total, 24 mil parturientes serão ouvidas. A Universidade de Brasília participa do levantamento, que está previsto para ser concluído no primeiro semestre de 2012.


Promovida pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz, a pesquisa vai mapear as condições em que essas mulheres tiveram seus filhos em maternidades públicas e privadas do país. “Acreditamos que a cesariana, em particular, pode está relacionada ao aumento no número de partos prematuros, quando os bebês nascem antes de estarem completamente formados”, afirma Maria do Carmo Leal, coordenadora nacional do estudo, chamado Nascer Brasil.


Os dados mais recentes do Ministério da Saúde revelam que o percentual de bebês nascidos com baixo peso em partos cesarianos aumentou de 7,7% para 8,6% entre 2000 e 2007. Em partos normais, essa proporção não passou de 7,8%. Nem todo bebê prematuro nasce com baixo peso, mas o baixo peso é uma possível complicação da prematuridade.


Maria do Carmo alerta para as complicações do nascimento prematuro. Segundo ela, as crianças podem nascer sem a capacidade de respirar totalmente desenvolvida quando o parto acontece prematuramente. A hora certa do nascimento ocorre, em geral, entre a 37ª e 38ª semana de gestação. “Mas há casos em que o desenvolvimento da criança só se completa na 40ª semana”, explica.


A professora Antonia Angulo-Tuesta, do curso de graduação em Saúde Coletiva da Faculdade UnB Ceilândia e coordenadora da pesquisa no Distrito Federal, acredita que a possibilidade do médico agendar uma cesariana pode estar causando um aumento dos casos de nascimentos prematuros. “Muitos vezes a data do nascimento atende as conveniências das mães e dos médicos e não o tempo natural do bebê”, explica.


DECISÃO –
Os entrevistadores estão colhendo informações sobre o tipo de parto ocorrido, se a mulher optou entre os partos cesariana e normal e o que motivou a escolha.


A pesquisa quer saber ainda detalhes sobre como foi o acompanhamento pré-natal e o atendimento prestado à parturiente e recém nascidos. Será conhecido também o número e o tipo de partos que as mulheres entrevistadas tiveram durante a vida. “A partir dos resultados poderemos identificar o que precisa ser transformado para melhorar a organização dos serviços de saúde e diminuir o número de partos prematuros”, explica Antonia.


Cada mulher entrevistada responderá ao questionário em dois momentos, um imediatamente após o parto e outro entre 45 e 60 dias depois do procedimento. “Esse retorno é importante para saber se mãe e o bebê estão saudáveis e se precisaram se internar novamente”, afirma Maria do Carmo.


No Distrito Federal, serão entrevistadas 810 mulheres de cinco hospitais públicos e quatro privados. Vinte entrevistadoras, oito delas alunas da Faculdade de Ceilândia, estão em campo para realizar o trabalho. A UnB também está conduzindo a coleta na região Centro-Oeste, coordenada pela professora Daphne Rattner, do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências da Saúde. Nos quatro estados serão entrevistadas 90 mães em 31 hospitais, também públicos e privados.


Participam da pesquisa as parturientes que deram à luz com mais de 22 semanas de gestação e cujos bebês, nascidos vivos ou não, pesam mais de 500g. Em todo o país participam 266 unidades hospitalares que realizam mais de 500 partos por ano.