Estudo da UnB investigou a memória emocional e espacial em pessoas com epilepsia grave, intratáveis com medicamentos. Os pacientes passaram por processo cirúrgico que retira parte do cérebro, onde está o foco da epilepsia. A pesquisa comprovou que, além da redução das crises epilépticas, essas pessoas apresentaram melhor desempenho em testes cognitivos.
Indivíduos com epilepsia sofrem de descargas elétricas no cérebro que podem gerar uma série de problemas, a depender da região afetada. Aqueles que têm a doença numa região chamada lobo temporal mesial apresentam prejuízos na memória emocional e espacial. Ou seja, têm dificuldade para armazenar e evocar informações que envolvem emoções ou orientação espacial. Além disso, a epilepsia causa crises. O indivíduo pode ficar em estado de inconsciência durante minutos, várias vezes ao dia.
“Avaliamos a memória do paciente. Após a cirurgia, as crises epilépticas diminuem significativamente, o sujeito tem uma plasticidade cerebral com o outro hemisfério e consegue melhorar as funções cognitivas”, explica a pesquisadora Lara De Vecchi Machado, que desenvolveu o doutorado em Ciências da Saúde Avaliação da memória operacional, emocional e espacial, em pacientes com epilepsia temporal mesial e pacientes submetidos a lobectomia temporal, defendido em março de 2009.
DOENÇA – O lobo temporal mesial possui duas estruturas criticas para a memória : hipocampo, responsável pela memória espacial, e amígdala, que avalia informações emocionais. Essas duas estruturas estão presentes nos dois hemisférios cerebrais. A cirurgia indicada para os pacientes com epilepsia nessa região específica extrai o foco epiléptico no lobo temporal mesial de apenas um dos hemisférios, aquele não-dominante para a linguagem. A amígdala é uma área sensível, que envia e recebe informações para todas as outras regiões do cérebro. Segundo o orientador da pesquisa, o professor do Instituto de Biologia e da Faculdade de Saúde Carlos Tomaz, estudos mostram que essas estruturas são essenciais para o processamento da memória. No entanto, a retirada unilateral dessa estrutura onde está o foco epiléptico pode trazer benefícios.
“É a primeira vez que se demonstra isso. As descargas elétricas provocadas pela epilepsia acabam prejudicando outras áreas do cérebro. Com a extração do foco epiléptico, você permite que a área sadia trabalhe de maneira mais eficiente”, explica o professor. Após a cirurgia, os pacientes podem reduzir as crises em até 80% e continuar mantendo um controle da doença com medicamentos.
TESTES - O estudo aplicou testes neuropsicológicos em três grupos: vinte pacientes com a epilepsia grave no lobo temporal mesial, 21 pessoas sem a doença e outros 20 pacientes que haviam passado pela cirurgia, 16 meses após o processo cirúrgico. Os testes cognitivos foram desenvolvidos no Laboratório de Neurociências e Comportamento da UnB.
Os amostrados realizaram os testes em computadores. O programa exibia fotografias de faces que denotavam reações emocionais. O paciente deveria se lembrar de uma fotografia vista anteriormente, identificar uma das oito emoções possíveis e diferenciá-la da fotografia seguinte. O teste que trata de memória espacial apresentava fotografias de um objeto em diferentes posições na tela. O objeto iniciava num determinado local e reaparecia em até outras oito posições. O voluntário deveria apontar até nove locais onde objeto esteve.
Os pacientes com epilepsia tinham dificuldade nesse teste de memória espacial e conseguiam identificar, em média, três posições. Já os pacientes que passaram pela cirurgia cerebral, tiveram um resultado semelhante ao do grupo de pessoas sem a doença, com uma média de seis a sete acertos.