GEOCIÊNCIAS

Até então, acreditava-se que a divisão teria ocorrido há 130 milhões de anos. Descoberta resulta de análise de rochas coletadas na Patagônia

De 2007 a 2014, foram coletadas toneladas de amostras de rochas na Patagônia. Da esquerda para direita: Gustavo Bertotto, da Universidade de La Pampa; Yuji Orihashi, da Universidade de Tóquio; Akihisa Motoki, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ); e, ao fundo, o professor da UnB, Tiago Jalowitzki. Foto: Arquivo Pessoal

 

Estudo revela que a divisão do supercontinente Gondwana – formado pelo que hoje conhecemos como América do Sul, África, Madagascar, Antártida, Austrália e Índia – teve início há 180 milhões de anos. Até então se pensava que a divisão dessa massa terrestre havia se iniciado há 130 milhões de anos. A pesquisa foi publicada na revista Nature Communications em julho.

 

"A gente descobriu que a separação de Gondwana teve início um pouco mais pra trás no tempo geológico, ao invés de 130 passou a ser 180 milhões de anos", diz o professor do Instituto de Geociências (IG/UnB) Tiago Jalowitzki. O achado resulta de uma série de análises químicas feitas em fragmentos de rochas coletadas na Patagônia e de informações existentes sobre a formação dos continentes e oceanos.

Originalmente localizados a 40 km de profundidade, os fragmentos de rocha analisados (os chamados xenólitos mantélicos) são pedaços do manto terrestre que subiram à superfície com as erupções vulcânicas. Foto: Arquivo Pessoal
A Terra possui basicamente três camadas: crosta, onde habitamos, manto, de onde provêm os fragmentos de rocha analisados pelos pesquisadores em Tóquio, e núcleo (externo e interno). Imagem: Understanding Earth, 7th edition, 2014, W. H. Freeman

 

As coletas aconteceram ao longo de quatro expedições realizadas na América do Sul entre os anos de 2007 e 2014. "Foram toneladas de amostras", conta o pesquisador, que, desde 2007, estuda o tema. Já as análises químicas foram realizadas em um laboratório na Universidade de Tóquio, no Japão, entre os anos de 2012 e 2023 em colaboração com o professor Hirochika Sumino.

 

As análises revelaram "elevadas razões de 3He/4He", explica Jalowitzki. Segundo ele, o enriquecimento de 3He indica contribuição de uma fonte profunda, algo nunca registrado na América do Sul. Por outro lado, há 180 milhões de anos, uma expressiva atividade vulcânica ocorreu na região de Karoo, na África. Esses dois fatos, a atividade vulcânica em Karoo e as semelhanças de idades e composições das rochas, leva os pesquisadores a deduzirem que a Patagônia não só esteve próxima à África e à Antártida durante o Gondwana, mas também começou a se separar desses continentes 50 milhões de anos antes do que se imaginava.

Mapa do Gondwana e os magmatismos de Karoo na África, Ferrar na Antártida e Chon-Aike na Patagônia. Fonte de calor proveniente do manto terrestre profundo chamada pluma de Karoo é responsável pelo magmatismo que separou o que hoje conhecemos como América do Sul, África, Antártida e Ilhas Malvinas há aproximadamente 180 milhões de anos. Imagem: ScienceDirect  

 

Além de Tiago Jalowitzki, participou do estudo o também professor do IG Marcelo Rocha, além de outros três brasileiros, dois chilenos, um argentino e três pesquisadores japoneses. A pesquisa contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do governo japonês.

 

ENTENDA – O Pangeia era uma massa de terra cercada por um único oceano, Pantalassa. Ele era formado pelo Gondwana (hemisfério sul) e pela Laurásia (hemisfério norte). A parte correspondente à América do Sul, África, Madagascar, Antártida, Austrália e Índia chamava-se Gondwana. O resto do continente, onde estava a América do Norte, Europa, Ásia e o Ártico, formava a Laurásia.

 

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