Para reduzir o risco de acidentes no trânsito, não é só o motorista que precisa evitar o uso do celular. O pedestre também deve ter esse cuidado. É o que aponta pesquisa desenvolvida pelo egresso do curso de Engenharia Civil (ENC/FT/UnB) Gabriel Lanzaro.
Membro do grupo de pesquisa em segurança viária da UnB (GPSV, do Programa de Pós-Graduação em Transportes), Gabriel cursa atualmente o doutorado na University of British Columbia (UBC), em Vancouver, Canadá. “Originalmente, é um tema de pesquisa que eu coorientei aqui na UBC”, conta. “Existem muitos estudos com foco em motoristas distraídos, por exemplo, usando o celular, mas poucos com pedestres, que também influenciam o trânsito”, explica.
Ainda no 2º ano da graduação, ele começou a trabalhar com a professora Michelle Andrade no Departamento de Engenharia Civil e Ambiental (ENC/FT), onde realizou pesquisas em engenharia de transportes. “Na UnB, mexi mais com segurança viária”, recorda. “Meus estudos sobre comportamento no trânsito eram mais voltados a campanhas educativas.”
PEDESTRES E VEÍCULOS – A pesquisa utilizou um modelo de simulação com inteligência artificial para estudar a interação entre transeuntes e veículos, considerando a distração dos pedestres.
Os resultados mostraram que pedestres distraídos ficam mais próximos dos veículos, andam mais devagar e raramente cedem passagem. Eles também não ajustam sua posição em relação aos veículos, indicando falta de atenção. Já os pedestres atentos mantêm mais distância, cedem mais passagem e se movem de forma mais segura.
Em termos de severidade, as interações entre pedestres e veículos distraídos apresentaram um aumento no risco de colisões, enquanto as interações com pedestres atentos mostraram uma redução de 46,5% na gravidade dos atritos. “Isso reforça a importância de considerar a distração em modelos de segurança viária”, aponta Gabriel.
Os resultados podem ser utilizados no futuro para dimensionar estrutura específica para transeuntes, reconhecendo que a distração existe. Um exemplo seria infraestrutura inteligente que alerta pedestres distraídos ou aumenta o tempo semafórico para pedestres dependendo da quantidade de pedestres distraídos. “Seria extremamente interessante avaliar como os comportamentos diferem em outras cidades, como Brasília”, diz Gabriel.
A professora do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental Michelle Andrade destaca a relevância da pesquisa para o desenvolvimento da segurança viária sob a perspectiva tecnológica e de políticas públicas. “Isso se dá, dentre outros motivos, devido aos achados comportamentais da interação com pedestres serem realizados por meio de atitudes capturadas nas imagens de vídeo e não por declarações de intenções normalmente realizadas a partir de questionários”, explica.
Segundo a professora, estudos nessa linha já são desenvolvidos no Brasil, porém ainda voltados às interações veiculares. “Parte desses estudos foram desenvolvidos recentemente na UnB com a participação do Gabriel”, cita. Um projeto final e uma dissertação de mestrado nessa área também já foram realizados na UnB.