Pesquisa da UnB pode aumentar produtividade de animais que fornecem leite e carne. No caso das vacas, por exemplo, o número de filhotes que elas geram durante a vida pode aumentar de 36, que é o máximo que se consegue hoje, a um rebanho inteiro – mais de 200 bezerros. A professora Carolina Lucci, da Faculdade de Agronomia e Veterinária da UnB, trabalha com óvulos pré-antrais – em estágio inicial de desenvolvimento –, que representam mais de 90% do total de óvulos em fêmeas.
As fêmeas já nascem com um número finito de óvulos – que antes de amadurecer são chamados de ovócitos – que varia de espécie para espécie. Nos humanos, por exemplo, são 1 milhão de ovócitos; nas vacas, 130 mil. Eles vão se desenvolvendo ao longo da vida dos animais e apenas 10% chegam à fase chamada antral, que é a última antes da fertilização. O restante se perde. Do total, somente 0,1% chegam à fase final e viram óvulos.
“A vantagem de se trabalhar com os pré-antrais é que eles são encontrados em qualquer idade e em qualquer estágio reprodutivo, além de serem mais numerosos que os antrais”, explica Carolina. O antral só pode ser usado após a puberdade. A técnica, portanto, aumenta o número de células que podem ser fertilizadas.
DESAFIOS – A pesquisa enfrenta grandes desafios. Em humanos e em camundongos, a técnica já é utilizada, mas até hoje não se conseguiu completar uma gestação em outras espécies utilizando essas células. Um ovócito pré-antral demora de 4 a 6 meses até amadurecer ao ponto de ser fertilizado – os antrais demoram apenas 7 dias – e os cientistas têm encontrado dificuldade em mantê-lo viável até esse estágio. A pesquisa coordenada por Carolina estuda como os ovócitos se comportam quando submetidos aos procedimentos de fertilização, para encontrar a melhor forma de tratá-los.
A pesquisa já encontrou melhores formas de armazenar os ovócitos de vacas, cabras e porcas e descreveu importantes alterações nas células dessas e outras espécies, como gatos e cadelas, quando congeladas para serem usadas posteriormente. Mas ainda não há uma previsão de quando a técnica poderá ser usada em larga escala.
UTILIZAÇÃO – A fertilização de ovócitos pré-antrais resolverá dificuldade que os pecuaristas têm de reproduzir espécimes fêmeas que são destaque de produção. “Como os machos possuem muitos espermatozoides, não há problemas. Conseguimos implantá-los em vários animais. Mas se há uma vaca com produção extraordinária de leite, por exemplo, conseguimos no máximo 36 bezerros dela”, explica a pesquisadora.
A técnica permitirá que se mantenha o material genético das fêmeas mesmo depois que elas morram. Em um primeiro momento, será utilizada apenas para animais que são destaque de produção e os ameaçados de extinção, porque o processo ainda é caro. “Com o tempo os custos devem baratear e a técnica poderá ser usada em larga escala”, completa.
A pesquisa foi apresentada nessa sexta-feira no Seminário Regional da Academia Brasileira de Ciências (ABC), que foi coordenado pela professora do Departamento de Matemática Keti Tenenblat. A academia reúne os pesquisadores de destaque do país e o encontro regional acontece a cada seis meses. Carolina Lucci faz parte da ABC como membro afiliado, categoria dedicada a jovens pesquisadores.