A região amazônica é a maior riqueza ambiental brasileira. Os recursos encontrados na floresta são de interesse internacional, mas o potencial do bioma não vem recebendo atenção e manutenção merecidas, pois cerca de 20% da sua área original já foi afetada pelo desmatamento, segundo dados do Grupo Permanente de Trabalho Interministerial Amazônia Legal. A Universidade de Brasília incentiva estudos sobre o ecossistema amazônico e suas problemáticas. Por meio do Núcleo de Estudos Amazônicos (Neaz), vinculado ao Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam), alunos e professores da instituição viajam pela terceira vez à região pelo projeto Vivência Amazônica.
Os participantes estão envolvidos na disciplina Tópicos especiais sobre a Amazônia. Todo o conhecimento adquirido nas aulas gera um grande interesse sobre o lugar, que a maioria ainda não teve oportunidade de conhecer. Foi em busca de levar os estudantes para ainda mais perto do conteúdo, que o coordenador do núcleo, Manoel Pereira de Andrade, em conjunto com professores da disciplina, decidiu organizar o projeto Vivência Amazônica. A iniciativa viabiliza uma viagem da turma para regiões com presença da floresta, passando por diferentes estados brasileiros. São visitadas instituições de ensino, aldeias, comunidades indígenas e outras localidades que sejam didaticamente interessantes para a compreensão da realidade da população que vivencia o ecossistema amazônico.
A turma de 2018 embarca neste sábado (1º) e tem no roteiro a passagem por mais de 15 cidades em três estados brasileiros: Mato Grosso, Rondônia e Acre. Durante os 21 dias de jornada, o grupo visitará a Reserva Extrativista Chico Mendes, a unidade de conservação Rebio Jaru, a torre meteorológica do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), que é uma cooperação internacional entre Estados Unidos, Brasil e Europa. A população indígena Saruí-Paiter, em Rondônia, também será visitada. Uma equipe da UnBTV acompanha o grupo e produzirá um documentário sobre a viagem.
EXPECTATIVAS – Caio Carvalho, estudante de Ciências Sociais, irá pela primeira vez à Amazônia e falou sobre o que espera da experiência. “A expectativa que eu tenho passa por esse processo do semestre todo que a gente tem de construção. Desde o roteiro às formas de arrumar dinheiro, até propriamente a disciplina, que é uma imersão em uma parte mais teórica da Amazônia, onde descobrimos que há intelectuais pelo mundo inteiro estudando essa riqueza. Eu já consigo até visualizar a Amazônia, em certa medida, com os relatos e estudos."
A estudante de Serviço Social Ingrid Mangabeira, colaboradora do Neaz, conta como ir à Amazônia é sempre um desafio. Ela vai à região pela terceira vez, e ressalta que a conquista de conhecimento é muito maior que os obstáculos a superar. “Quando eu penso em ir para a vivência, sempre me vem um frio na barriga, como se fosse a primeira vez. É um sentimento muito forte de mudança, de transformação social. Essa relação de troca, diálogo e intercâmbio de saberes nos constrói muito. Somos estimulados a pensar a amazônia brasileira, as particularidades dos nossos povos e do nosso bioma, tão disputado internacionalmente”, diz.
Ela acrescenta o impacto que o núcleo de estudos teve sobre sua trajetória acadêmica. “O Neaz mudou toda a minha perspectiva. Conseguiu me mostrar o valor da universidade na nossa emancipação, do nosso povo. Proporcionar a experiência da vivência é engrandecedor dentro da academia e enquanto pessoa.”
TEORIA – A Floresta Amazônica é a maior floresta tropical do planeta, além de ser o maior bioma brasileiro. A saúde desse ecossistema é de vital importância para a manutenção da vida terrestre. Ciente da enorme importância deste tesouro para o Brasil e para o mundo, o Ceam mantém há trinta anos o Núcleo de Estudos Amazônicos, que coordena estudos e projetos sobre o tema.
Na disciplina Tópicos especiais sobre a Amazônia, que visa apresentar a região amazônica brasileira e continental a estudantes de diferentes formações, as discussões levantadas nas aulas são sobre as mais diversas particularidades da região. Enaile do Espírito Santo, professora voluntária do Neaz, conta que as aulas são sempre preparadas a fim de aproximar dos alunos a realidade da região estudada. Líderes de movimentos sociais e professores especialistas sempre são convidados para compartilhar o conhecimento nos encontros da turma. Um exemplo desses colaboradores é a própria professora, especialista em Geografia e Planejamento Regional pela Universidade Nova de Lisboa, em Portugal.
PREPARAÇÃO – Outras duas viagens já foram realizadas pelo projeto Vivência Amazônica. O processo de construção da expedição começa a partir do primeiro dia de aula. Logo que são acolhidos no início do semestre, os estudantes são informados sobre o projeto. Durante os dois semestres do ano letivo, a organização acontece de maneira colaborativa entre os alunos. Divididos em comissões de comunicação, de finanças, de pesquisa e saberes, de saúde e alimentação e de transporte e roteiro, os grupos trabalham durante todo o ano para tornar a ideia realidade. As ações se intensificam no segundo semestre, quando a viagem se aproxima.
Os fundos são reunidos de maneira coletiva para que questões financeiras não impossibilitem a participação de nenhum aluno que tenha interesse. A Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV) tem participação efetiva no projeto, fornecendo o transporte. Já os recursos para alimentação e seguro vem de atividades como bazar, rifa, sarau e venda de produtos de origem amazônica. A hospedagem é oferecida por anfitriões da região visitada. Participantes de edições passadas já foram recebidos por Raimundo Mendes, primo de Chico Mendes, importante ativista ambiental.
INTERESSE – Para os alunos interessados em cursar a disciplina Tópicos especiais sobre a Amazônia, o Neaz preparou um novo modelo de seleção a partir do primeiro semestre de 2019. Antes, a escolha dos alunos que cursariam a matéria era feita pelo sistema Matrícula Web. Para humanizar o processo e selecionar indivíduos com maior identificação aos estudos propostos, os interessados serão entrevistados durante o período de matrícula regular.
Para participar o aluno deve ir ao Neaz, no Pavilhão Multiuso I, Bloco A, campus Darcy Ribeiro, e realizar inscrição no período de matrícula regular para o semestre. Mais informações em Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., (61) 3107 5889 ou pelo Facebook do núcleo.
*Estagiário de Jornalismo na Secom/UnB.