O trabalho de desenvolvimento de tecnologias que auxiliem a pessoa com deficiência levou o professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UnB Antônio Padilha Lanari Bó a ser um dos condutores da tocha paralímpica no Distrito Federal, no dia 1º de setembro. Ele foi o responsável por acender a pira no palco montado no Parque da Cidade.
“Trabalho com essa temática há muito tempo e creio que foi por isso que me chamaram”, opina. "Fiquei muito orgulhoso de poder representar esse espírito".
O professor conta que aproveitou seu passado de competições de triatlo de longa distância e de desenvolvimento de sistemas de eletroestimulação para propor a confecção de um veículo inovador, chamado de EMA Trike (Empowering Mobility and Autonomy – Empoderando mobilidade e autonomia, em tradução livre).
A Trike é um triciclo adaptado para pessoas com lesão na medula, e conta com um sistema integrado que estimula os músculos por meio de impulsos elétricos, fazendo com que o piloto paraplégico possa pedalar com as próprias pernas.
A tecnologia estimula músculos por meio de impulsos elétricos funcionais que possibilitam o movimento coordenado dos membros que os recebem. “Já expandimos o uso dessas técnicas para auxiliar pessoas a fazerem transferências”, relembra o professor, que coordena o projeto.
Transferências são movimentos que as pessoas com deficiência motora nos membros inferiores precisam fazer para saírem da cama para a cadeira, e da cadeira para o carro, por exemplo. “No futuro, gostaríamos de contribuir com pesquisas que objetivam a reabilitação e a restauração do movimento”, explica Antônio Padilha.
OLIMPÍADA BIÔNICA – Desenvolvida em uma parceria do Laboratório de Automação e Robótica (LARA) e do Núcleo de Tecnologia Assistiva, Acessibilidade e Inovação (NTAAI), a Trike será usada pela UnB para competir pelo Brasil na Cybathlon – também chamada de Olimpíada Biônica –, que acontece em Zurique, na Suíça, no dia 8 de outubro.
“Tenho muito orgulho em ajudar a levar um projeto da nossa Universidade, do nosso país, para representar o Brasil e a América Latina em um evento internacional”, fala o professor Emerson Fachin Martins, um dos envolvidos no trabalho.
O piloto da Trike, Estevão Lopes, foi escolhido após uma sequência de testes com atletas do Centro de Treinamento em Educação Física Especial (CETEFE), também parceiro no projeto.
“Descobri os esportes que mais me estimulavam durante a minha reabilitação. Hoje, sou um dos melhores em vela adaptada, halterofilismo e canoagem. Agora diminuí a intensidade desses esportes para treinar para o Cybathlon”, diz Lopes, que ficou paraplégico há quatro anos, após ser vítima de uma bala perdida.
BENEFÍCIOS – “Trabalho com a área de desenvolvimento de engenharia biomédica desde 2007 e percebo como esse trabalho pode ter impacto direto na vida das pessoas”, conta Antônio Padilha.
A Trike contribui para a reabilitação dos membros inferiores e melhoria geral do estado de saúde e da qualidade de vida de pessoas com esse tipo de deficiência, além de ser uma forma de lazer e interação para a pessoa com deficiência.
“Antes de começar a pedalar, fiz um trabalho de estimulação e me surpreendi com a melhora. Ganhei quase 10 centímetros no diâmetro da coxa. A qualidade da minha circulação e o aspecto da pele estão melhores também”, relata.
Padilha afirma que o projeto ainda precisa de mais pessoas para testar o equipamento e fazê-lo evoluir. “Agora buscamos voluntários para participar dos testes e parceiros para auxiliar na disponibilização desses recursos no Brasil e exterior”, finaliza o professor, que também trabalha no desenvolvimento de próteses robóticas na Universidade de Brasília.