Projeto inédito promovido pela Faculdade de Tecnologia em parceria com escola pública visa promover a igualdade de gênero na área de Ciências Exatas.


Meninas na Engenharia“Existem vários estudos, não só no Brasil, mas no mundo, que mostram que o número de meninas nos cursos de engenharia é muito menor do que em outras áreas. Nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, existem cotas para mulheres engenheiras nas empresas”, explica a professora Andréa Santos, do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade de Brasília. Com base neste cenário nasceu o projeto Meninas Velozes, uma parceria entre a Faculdade de Tecnologia da UnB e o Centro de Ensino Médio 404 de Santa Maria (CEM 404). O objetivo é promover a equidade de gênero incentivando alunas do ensino médio a ingressar no ensino superior nas carreiras de Ciências Exatas.


Na última quinta-feira (18), 17 alunas do CEM 404 desempenharam funções técnicas de um pit stop automobilístico para aprender noções de mecânica durante uma oficina no campus Darcy Ribeiro. As meninas também assistiram à apresentação do mini-baja, veículo com estrutura tubular destinado a competições off road desenvolvido pelo grupo Piratas do Cerrado, formado por estudantes do curso de Engenharia Mecânica. “À medida que a gente for avançando, podemos levá-las para um laboratório de simulação dentro da UnB. Mas primeiro a gente tem que trazer para o mundo delas, para não assustar. Uma das dificuldades é quebrar o tabu da física e da matemática”, diz a professora Andréa Santos, uma das coordenadoras do projeto.


Desmistificar a carreira é também um dos objetivos do trabalho. “Eu mesma não era uma aluna de destaque em exatas. E hoje sou professora na Engenharia”, conta Andréa. Para quebrar certos tabus, alunas dos cursos de engenharia da UnB é que tomam a frente do projeto. “Receber na escola alunas do curso de engenharia, conversando de igual pra igual, faz as meninas se sentiram mais próximas”, conta Leiva Botelho, professora de História do CEM. Algumas já até vislumbram o ingresso na universidade. Fernanda Rodrigues, 17 anos, aluna do 3º ano do CEM, está em dúvida entre Arquitetura e Engenharia. “Eu quero um pouco de dificuldade para ver até onde posso chegar”, justifica.


O projeto também tem atingido as estudantes da escola de Santa Maria em outro aspecto: na auto-estima. “O que a gente viu nessa escola, que tem um baixo índice de desenvolvimento humano, são meninas que só querem terminar o ensino médio e arrumar um emprego. Acham que a universidade não é para elas. O projeto está servindo para abrir a perspectiva e nosso trabalho é despertar o desejo delas de ocupar essas vagas no ensino superior”, diz Kátia Brasil, coordenadora do Meninas Velozes e professora da Universidade Católica de Brasília, uma das parceiras do projeto.


Mas não apenas as alunas do CEM 404 se beneficiam. “Nossas estudantes da UnB estão motivadas, sabem que estão servindo de exemplo e com isso vem uma cobrança interna”, completa a professora Andréa Santos. As alunas voluntárias da UnB são dos cursos de Engenharia de Produção e Mecânica, em sua maioria, das empresas juniores do Grupo Gestão e Tecmec. “Acho que muito importante incentivar as pessoas a ingressar na faculdade”, diz a aluna Luisa Lobo, do 5º semestre de Engenharia de Produção. A colega, Bruna Galiza, lembra que sua escolha profissional também começou na escola. “Eu pensava em fazer Economia, nunca Engenharia. Foi divulgado na minha escola, passei a me interessar, comecei a pesquisar, um professor me incentivou e não me arrependo”.


O Meninas Velozes é um projeto de extensão da UnB e conta créditos aos alunos participantes. “Começamos a divulgar o projeto pelas empresas juniores dos cursos de Engenharia. Para a aluna que quiser participar e ajudar, o processo ainda está aberto”, convida a professora Andréa. Para as alunas do ensino médio, o benefício vem por meio de uma bolsa de estudos no valor de R$ 100 reais mensais, concedida por meio do Programa de Iniciação Científica Junior do CNPq. “É um trabalho de motivação, para verem que a UnB é para elas também. Não tem nenhum contrato pedindo que cursem engenharia. O que elas precisam é estudar”, explica Andréa Santos. E tem funcionado. “Os alunos têm muita preocupação com estágio, receber seu primeiro salário, receber qualquer quantia. Depois que entraram no projeto, algumas alunas até abandonaram os estágios para se dedicar exclusivamente a ele”, conta a professora Leiva Botelho, do CEM.