A medalha de ouro nas mãos de Fuad Gattaz Sobrinho, conquistada pelo trabalho na área de Engenharia de Software, é uma distinção direcionada a pesquisadores que privilegiam a transdisciplinaridade em seus trabalhos. “Não faço sistemas de computação, faço ciência”, define.
A honraria foi entregue em novembro, em Dallas (Estados Unidos), em conferência comemorativa pelos 20 anos da Sociedade para Ciência de Design e Processos – tradução livre de Society for Design and Process Science (SDPS).
“Essa medalha é dada para quem faz ciências transformativas. Alguns vencedores do prêmio Nobel já receberam, mas não todos, porque é preciso gerar integração entre temas diversos”.
Fuad Gattaz se enxerga como alguém que nasceu para realizar esta convergência entre áreas distintas. Formado em Física e Matemática pela UnB, cursou mestrado em Informática na PUC-RJ. Ainda na década de 1970, empregou seus conhecimentos como pesquisador da recém-fundada Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), de onde, mais tarde, seria diretor executivo.
No início dos anos 1980, trabalhou na NASA como coordenador do programa de proteção espacial Guerra nas Estrelas, lançado pelo presidente norte-americano Ronald Reagan. Ali aprendeu mais sobre sua vocação.
“Vi especialistas em Física, Química, Matemática, Psicologia, Sociologia e até Música trabalhando para que conhecimentos de áreas diferentes se harmonizassem em prol de resultados comuns”, relata.
Em 1984, sob orientação do cientista chinês Raymond Yeh – um dos precursores da Engenharia de Software – Gattaz desenvolveu trabalho de doutorado relacionado à Teoria dos Grafos. O resultado foi a criação de uma base teórica que pode ser aplicada a diversas áreas.
“Utilizamos para diagnóstico de câncer, taxonomia de plantas e uma série de coisas que não estavam previstas na ideia original”, diz.
Para fortalecer a integração reconhecida pelo prêmio da SDPS, o professor tem buscado ao longo dos anos desmistificar a compreensão do público sobre a área em que atua. “Softwares não são apenas programas de computador. São protocolos de funcionamento que estão presentes em tudo. A forma pela qual esses protocolos são gerados é a própria Engenharia de Software”, explica.
PESQUISAS NO BRASIL – Com experiência acumulada em diferentes frentes de trabalho, Fuad Gattaz Sobrinho se reconhece acima de tudo como um cientista-empreendedor. Para ele, a autonomia financeira no desenvolvimento de projetos é indispensável. “Virei empresário para financiar minhas próprias pesquisas”, conta.
Ele critica a desconfiança existente no Brasil em relação à capacidade interna de desenvolvimento científico e faz um apelo por mais investimentos, em especial, na Engenharia de Software.
“A produção de tecnologia e a formação acadêmica na área ainda está no começo e necessita de muito investimento dos setores privado e público. Nossas escolas ensinam a aplicar produtos desenvolvidos por estrangeiros e apostam pouco na criação tecnológica”, pontua.
TRAJETÓRIA NA UNIVERSIDADE – Ao relembrar seus passos como estudante da UnB, Gattaz classifica as experiências multidisciplinares vividas na instituição como determinantes aos rumos de sua carreira. Além da qualidade dos cursos e dos professores, o ex-aluno aponta como diferencial a dinâmica encontrada no campus Darcy Ribeiro.
“Eu fui monitor de disciplinas, podia passar muito tempo nos laboratórios e na biblioteca, aprendendo sozinho. Esse tipo de vivência forma cientistas, porque o estudante aprende a descobrir coisas por conta própria. A curiosidade científica surge com os desafios”, acredita.
Após se formar como físico e matemático em apenas dois anos, o pesquisador voltou à UnB em 1978 para lecionar no curso de mestrado em Métodos Quantitativos. Hoje atua como consultor, professor e coordenador de grupos de pesquisa em diferentes instituições de ensino no Brasil e no exterior.